Liderança e ativista indígena enfrentava câncer e morreu em Redenção, no Pará. Ela ficou conhecida pela luta contra a construção da usina de Belo Monte, no Pará, na década de 80. Relembre momento e veja homenagens.
A liderança e ativista indígena Tuíre Kayapó Mẽbêngôkre morreu neste sábado (10) aos 54 anos. A informação foi confirmada pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Kaiapó do Pará.
Tuíre enfrentava câncer no útero desde 2023 e recebia cuidados paliativos hospitalares em Redenção, no sul do Pará, segundo familiares. Ela deve ser sepultada na aldeia onde morava, a Gorociré, na Terra Indígena Kayapó.
Tuíre protagonizou uma cena que ficou mundialmente conhecida durante o Encontro das Nações Indígenas do Xingu de 1989, quando pressionou um facão no rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz. Ela protestava contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte e ficou conhecida como a mulher que parou a obra.
“Tuíre Kaiapó foi uma grande guerreira na defesa dos direitos dos povos indígenas, foi uma voz incansável na luta pela preservação da cultura e do território Kayapó. Sua dedicação e coragem inspiraram gerações e deixaram um legado inestimável”, comunicou o Dsei-Kayapó.
Nas redes sociais, a líder foi homenageada por órgãos, instituições e figuras indígenas pelo seu ativismo na causa dos povos originários.
“O movimento indígena e o Brasil perderam uma das maiores lideranças do povo Kayapó. Tuíre Kayapó, uma guerreira incansável, ancestralizou e deixou um legado que jamais será esquecido. Sua luta, marcada por coragem e determinação, ecoará eternamente em nossos corações e nas futuras gerações”, disse em nota a Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa).
Momento histórico
Tuíre protagonizou uma cena que se tornou histórica na luta dos povos indígenas ao pressionar um facão que empunhava no rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz. Veja no vídeo acima.
Na época, Tuíre tinha apenas 19 anos e falou língua do seu povo para protestar contra a construção. Segundo os indígenas, Belo Monte causaria um grande impacto ambiental na região. Depois disso, o projeto da usina ficou interrompido por dez anos.
Homenagens e despedida
Em Redenção, onde a ativista morreu, indígenas, principalmente mulheres, iniciaram as homenagens com uma cerimônia de despedida à liderança.
Ao g1 e à TV Liberal, parentes de Tuíre comunicaram que o corpo dela será levado à aldeia onde morava, a Gorociré, na Terra Indígena (T.I.) Kayapó, localizada a cerca de 60 km do centro da cidade Cumaru do Norte, no sudeste do Pará, e considerada a maior da região.
Indígenas iniciam homenagens em cerimônia, após morte de Tuíre Kayapó no PA
Nas redes sociais, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, lamentou a morte de Tuiré e disse que o momento de 89 “representa apenas um entre tantos momentos de sua irretocável trajetória”.
“A guerreira Kayapó era incansável na luta pelos direitos do povo Kayapó, dos povos indígenas de todo o Brasil e na proteção do meio ambiente […] que os ancestrais te recebam”, completou.
A Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa) reiterou: Tuíre foi “uma voz firme e poderosa na defesa dos direitos indígenas, sempre à frente das batalhas pela preservação da cultura e dos territórios de seu povo”.
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) divulgou nota de pesar pelo falecimento de Tuíre Kayapó e destacou sua liderança e a definiu como “mulher cuja força e coragem marcaram a história do Brasil”.
A Funai também frisou que Tuíre se tornou um símbolo de resistência e luta por justiça, sendo precursora no protagonismo da luta das mulheres indígenas por direitos.
O gesto de Tuíre, colocando-se diretamente diante de decisões que afetavam sua terra e seu povo, representou um ato de resistência que permanecerá para sempre na memória daqueles que lutam por justiça.
A Funai se solidarizou à família da indígena, aos amigos e ao povo Kayapó.