A Justiça de Mato Grosso comprovou que agentes públicos da capital ajudavam na concessão de licenças e alvarás, durante a realização dos eventos, para receber dinheiro de integrantes da facção criminosa, responsável pela promoção dos shows. O grupo foi alvo da Operação Ragnatela, deflagrada na quarta-feira (5). Os investigados movimentaram mais de R$ 79,1 milhões, entre 2018 e 2022.
De acordo com a decisão, os responsáveis por facilitar as licenças dos locais eram:
Nas investigações, o esquema criminoso foi ilustrado através de um organograma – gráfico que mostra a estrutura interna de uma organização – que explicava como a movimentação ilegal de dinheiro funcionava.
De acordo com o gráfico, Joadir Alves Gonçalves, líder da organização criminosa, passava dinheiro em espécie para Willian Aparecido da Costa, que repassava para o assessor Rodrigo de Souza Leal, responsável por realizar a contratação dos cantores nacionais.
Nessa quarta-feira (5), foram cumpridos oito mandados de prisão e 36 de busca e apreensão, além do bloqueio de bens e contas bancárias, suspensão de atividades públicas e comerciais de pessoas e empresas ligadas à organização criminosa.
Os investigados são apontados como membros de uma rede criminosa envolvida em corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. De acordo com a Justiça, o grupo utilizava estabelecimentos comerciais, como casas noturnas e eventos, para lavar o dinheiro adquirido ilicitamente.
Entre as empresas envolvidas no esquema estão:
O organograma ainda mostrou que o dinheiro, oriundo do tráfico, era passado por Rodrigo até a casa noturna Dallas e o Expresso Lava Car, por meio de transferências bancárias. Já o lucro obtido com os shows e eventos era repassado para Kamilla Beretta, que realizava depósitos fracionados para as outras empresas e demais suspeitos de envolvimento na organização.
Cinco casas de shows de Cuiabá tiveram mandados decretados de sequestro de bens móveis e imóveis dos investigados, além do bloqueio de ativos financeiros até o valor de R$ 5 milhões por conta bancária. As atividades comerciais dessas empresas também foram suspensas.
Além das prisões e bloqueios, a Justiça determinou a suspensão do exercício de funções públicas de três agentes públicos sem prejuízo da remuneração, são eles:
Ainda segundo a Justiça o grupo utilizava depósitos fracionados – técnica usada para evitar a detecção de grandes somas de dinheiro – e empresas de fachada para evitar a identificação das transações ilegais.
O vereador, investigado por suposta influência na liberação de eventos em casas noturnas, negou a participação no esquema. “Recordo que as casas de shows citadas tiveram diversas fiscalizações e foram inclusive autuadas. É importante destacar que a liberação de eventos pode ser devidamente autorizada pela Justiça, com base na documentação apresentada. Estou à disposição com muita tranquilidade para contribuir com as investigações e justiça”, diz.
Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp-MT) disse que servidores respondem a Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) e não ocupam cargos comissionados. A pasta ressaltou que já exonerou três servidores investigados que tinham cargos comissionados e que aguarda informações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) para definir a adoção imediata de outras medidas administrativas.
De acordo com a secretaria, o servidor Winkler de Freitas Teles não foi alvo de medida cautelar no âmbito da Operação. O servidor Luiz Otávio Natalino, já foi afastado das funções.
Em nota, a Secretaria de Ordem Pública informou que vai abrir procedimento interno para investigar a conduta do agente de fiscalização. Já a Secretaria de Segurança Pública (Sesp-MT) disse que vai investigar o policial por meio de um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD).
A reportagem tenta contato com os demais investigados e com os responsáveis pelas empresas.
Com a decretação das prisões preventivas e outras medidas cautelares, a Justiça informou que busca interromper as atividades ilícitas e assegurar a aplicação da lei penal. As investigações continuarão para aprofundar o entendimento do funcionamento e extensão da organização criminosa.
O trabalho foi realizado pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Mato Grosso (FICCO), composta pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil e Polícia Militar, com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e do Cento Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer).
Mais de 40 mandados de prisão e busca foram cumpridos durante a operação Ragnatela, contra suspeitos de integrar a maior facção criminosa de Mato Grosso, responsável por promover shows nacionais e lavar dinheiro em casas noturnas de Cuiabá.
Segundo a Polícia Federal, foram cumpridos oito mandados de prisão e 36 de busca e apreensão, em Mato Grosso e no Rio de Janeiro, além do sequestro de imóveis e veículos, bloqueio de contas bancárias, afastamento de servidores de cargos públicos e suspensão de atividades comerciais.
As investigações identificaram que os criminosos participavam da gestão das casas noturnas e, com isso, o grupo passou a realizar shows de cantores nacionalmente conhecidos, custeados pela facção criminosa em conjunto com um grupo de promoters.
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