Maior área úmida do mundo, o Pantanal enfrenta, seguidamente, secas severas desde 2020, um cenário motivado por fatores como mudanças climáticas, desmatamentos dentro e fora do bioma e degradação de nascentes.
A estimativa é de que pelo menos mil mananciais já foram perdidas em Mato Grosso.
Com o objetivo de preservar e recuperar essas cabeceiras de rios, garantir a segurança hídrica e o abastecimento de água potável, o Ministério Público de Mato Grosso (MP-MT) idealizou, em 2015, o projeto “Água para o Futuro”.
De acordo como órgão, nesses nove anos, a iniciativa já identificou 650 nascentes no Estado, que são capazes de produzir cerca de 20 milhões de litros de água por dia.
Esse volume é suficiente para abastecer por dia uma cidade como Sorriso (420 km ao Norte de Cuiabá), a quinta mais populosa do Estado.
No mesmo período, o trabalho desenvolvido pela equipe multiprofissional do projeto resultou no mapeamento de 5 milhões de metros quadrados de área de preservação permanente (APP), o equivalente ao tamanho de 600 campos de futebol.
O projeto, executado em conjunto com o Instituto Centro de Vida (ICV) e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), começou por Cuiabá e, atualmente, está implantado em 17 municípios mato-grossenses.
Só na Capital, cerca de 300 nascentes já foram identificadas com parte delas recuperadas.
Entre as principais ameaças, estão retirada da mata ciliar, destinação inadequada de efluente ou esgoto, ausência de proteção física nos pontos de afloramento d’água, aterramento e entubamento e canalização das nascentes e córregos.
“O Água para o Futuro se notabilizou como um grande projeto institucional do Ministério Público de Mato Grosso, de grande alcance e resolutividade”, disse o procurador-geral de Justiça, Deosdete Cruz Junior, por meio da assessoria de imprensa.
“Desejamos que essa prática exitosa seja cada vez mais ampliada e levada a outros estados e até países, para que a população tenha a segurança hídrica necessária. Muitas cidades pelo mundo, sobretudo as mais populosas, já sofrem com a falta de água, um recurso essencial para a nossa vida”, completou.
Idealizador do projeto, o procurador de Justiça Gerson Natalício Barbosa conta, em vídeo institucional sobre a iniciativa, que a ideia surgiu quando ele era titular da 17ª Promotoria de Justiça do Meio Ambiente em Cuiabá e sempre percebia problemas quando os procedimentos e ações envolviam nascentes e suas respectivas APPs.
“Nem o município e nem os consultores contratados pelos investigados por provocarem danos ao meio ambiente sabiam precisar se havia nascentes nas áreas questionadas, mas a única convicção que eu tinha era de que estávamos perdendo nascentes e precisávamos resolver isso”, afirmou.
Vale destacar que, as nascentes dos principais rios fornecedores de água para o Pantanal, como o Paraguai e seus afluentes, estão localizadas nas terras altas ao redor, no Cerrado, que cobria 25% do território nacional e hoje está restrito a poucas ilhas de vegetação original protegidas em unidades de conservação (UC).