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segunda-feira, novembro 18, 2024
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Quilombola mato-grossense debate sobre alterações climáticas em territórios tradicionais na COP28 | Mato Grosso

A quilombola e ativista mato-grossense Laura Ferreira da Silva, de 46 anos, que reside na comunidade Quilombola da Mutuca, em Nossa Senhora do Livramento, a 40 km de Cuiabá, tem participado de painéis na 28ª Conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 28, que discutem sobre as alterações climáticas em territórios tradicionais. Laura é a única quilombola do estado a fazer parte do fórum, que é o maior de discussão sobre o assunto.

Em entrevista, a ativista disse que estar na COP28 é uma reafirmação de que é preciso estar sempre questionando sobre questões climáticas que interferem no modo de vida das pessoas.

“Infelizmente não olham para o nosso território com olhar humanitário, mas sim como um bem econômico, enquanto para nós é muito mais do que isso. Ali é onde está enraizado toda a nossa identidade e pertencimento. Os povos das comunidades tradicionais existem e resistem, tem pessoas humanas habitando nesses territórios”, destacou.

 

Laura contou que alguns dos temas abordados nas palestras em que participou foram racismo ambiental, racismo religioso e o papel das mulheres quilombolas nessas discussões.

O racismo ambiental consiste em uma expressão que denuncia que a distribuição dos impactos ambientais não se dá de forma igualitária entre a população, sendo a parcela historicamente marginalizada a mais afetada pela degradação ambiental.

Além disso, a ativista também alerta sobre a importância de se atentar às mudanças climáticas hoje, em todos os biomas do país, para não comprometer as vivências das gerações futuras.

“A gente precisa dialogar sobre os seis biomas, porque um é uma engrenagem do outro, um precisa do outro. É preciso que a sociedade respeite as mulheres dentro de sua diversidade, e que as vozes dessas mulheres quilombolas dos seis biomas possam ecoar”, disse.

 

Laura Ferreira da Silva, de 46 anos. — Foto: Reprodução
Laura Ferreira da Silva, de 46 anos. — Foto: Reprodução

A diretora executiva do Instituto Centro de Vida (ICV), Alice Thuault, também está participando da COP28 e, segundo ela, a ideia do ICV é apresentar dados para auxiliar as populações tradicionais a terem voz para negociarem possíveis financiamentos climáticos.

Um dos dados apontados por Alice fala sobre o aumento do desmatamento em Mato Grosso, que cresceu em 8%.

O que é a COP e o que está em jogo

 

Realizada anualmente desde 1995, a conferência utiliza a palavra COP, que é uma sigla em inglês que significa “Conferência das Partes”, uma referência às 197 nações que concordaram com um pacto ambiental da ONU no início da década de 1990.

Chamado de Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), o tratado tem como principal objetivo estabilizar a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e, assim, combater a ameaça humana ao sistema climático da Terra, cada vez mais evidente nos últimos meses.

No entanto, muito compromissos firmados em COPs anteriores foram descumpridos, como o financiamento de US$ 100 bilhões por ano que seria feito por países desenvolvidos para ajudar os países em desenvolvimento a se preparar para os impactos das mudanças climáticas.

Neste ano, pela primeira vez na história, o mundo registrou um dia com temperatura média global 2°C acima da era pré-industrial. Dentre os temas que deverão ser discutidos na COP 28, segundo especialista ouvidos pelo g1, estão:

  • Balanço global (global stocktake): avaliação do progresso na implementação do Acordo de Paris, cujo objetivo é manter o aquecimento global do planeta abaixo de 2°C até 2100 e buscar esforços para limitar esse aumento até 1,5°C.
  • Combustíveis fósseis: comprometimento global para eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis, embora o cenário de negociação seja desafiador. Segundo cientistas, caso ações mais efetivas não sejam tomadas, o aumento da temperatura pode atingir os preocupantes índices de 2,5°C a 2,9°C acima dos níveis pré-industriais.
  • Perdas e danos: discussão sobre como compensar países já afetados pela crise climática. Na COP27, pela primeira vez, uma resolução sobre um tipo de financiamento climático a países vulneráveis à crise do clima foi aprovada, mas ainda não está claro de onde sairão os aportes para esse fundo e quais países em específico vão receber a quantia.
  • Financiamento e adaptação climática: além do financiamento de perdas e danos, outra pauta deve ser a retomada do financiamento para ajudar os países em desenvolvimento a se prepararem para as mudanças climáticas. Recentemente, a ONU relatou uma queda de 15% no fundo para a adaptação climática dos países em desenvolvimento em 2021.
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