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Queimadas sem autorização, seca e alta temperatura: MT registra maior número de focos de incêndio do país em março

Mato Grosso registrou o maior número de focos de incêndio do Brasil em março, com 1.624 focos entre os dias 1° e 31, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Desde janeiro deste ano, foram registrados 3.334 focos, o segundo maior número do país, também recorde para o primeiro trimestre.

As principais causas dos focos de incêndio foram:

  • Queimadas sem autorização: segundo especialistas, a maioria das áreas com focos de incêndio não possuem autorização de queima controlada.
  • Seca: o estado enfrenta uma de redução no regime de chuvas e isso afeta o balanço hídrico, sendo uma das causas do aumento dos incêndios.
  • Altas temperaturas: outro fator que afeta para o aumento nos focos são as altas temperaturas, especialmente pelo efeito do El Niño desde o ano passado.

 

10 estados com maior número de focos em março de 2024

Estado n° de focos
Mato Grosso 1.624
Roraima 1.378
Bahia 400
Mato Grosso do Sul 307
Tocantins 222
Goiás 214
Minas Gerais 182
Maranhão 157
São Paulo 137
Piauí 117

De acordo com o Inpe, em janeiro de 2024, foram registrados 847 focos e, em fevereiro, 863 no MT. Já em março, o número de focos de incêndio em 2024 (1.624) é maior do que o registrado em 2020, quando o Pantanal bateu recorde histórico de focos de incêndio e queimou 4,5 milhões de hectares, em 21 municípios de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, causado por uma seca extrema. Neste ano, o número de focos foi 12% maior do que em 2020.

Em 2023 foram registrados 576 focos de incêndio no mês de março.

De acordo com os dados, 12 dos 20 municípios que mais registraram focos de incêndio são de Mato Grosso. Nova Maringá é o 6° no ranking, com 141 registros. Em segundo, a cidade de Brasnorte, com 85 focos, na 10° posição.

Os três municípios que mais registraram focos de incêndio no país são de Roraima: Caracaí, com 320 focos, seguido por Iracema, com 187, e Cantá, com 179.

Segundo o Inpe, entre os estados que mais registraram focos de incêndio nesse período, depois de Mato Grosso, estão: Roraima, com 1.378; Bahia, com 400 focos, Mato Grosso do Sul, com 307 e Tocantins, com 222.

Confira os 10 municípios de MT que mais registraram focos de incêndio em março de 2024:

  • Nova Maringá – 141 focos
  • Brasnorte – 101 focos
  • Nova Mutum – 84 focos
  • Nova Ubiratã – 67 focos
  • Marcelândia – 52 focos
  • Paranatinga – 47 focos
  • Cáceres – 46 focos
  • Gaúcha do Norte – 43 focos
  • Diamantino – 42 focos
  • Tapurah – 40 focos

 

Dentre esses 10 municípios, pelo menos 8 estão localizados majoritariamente no bioma Amazônia.

🔥 Manejo de fogo sem autorização

 

O coordenador do núcleo de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), Vinicius Silgueiro, explicou que a maioria dos focos de incêndio acontece em áreas de transição onde há propriedades rurais de expansão da prática produtiva.

“Mais de 90% estão ocorrendo em imóveis com atividades agropecuárias. O uso do fogo em áreas de conversão para soja ou pastagem é o que os dados têm mostrado. Áreas de expansão em que o fogo é usado no processo de limpeza”, disse.

Essas áreas ficam próximas aos biomas da Amazônia e do Cerrado, que ocupam a maior porção do estado e é onde está a fronteira de transição do uso agropecuário.

Segundo o ICV, 90% dessas áreas com focos de incêndio não possuem autorização de queima controlada — aquela onde o fogo é usado de forma monitorada para auxiliar nas atividades agrícolas. Porém, essa prática também exige uma autorização do órgão ambiental do estado.

O uso do fogo não é permitido em áreas de vegetação nativa. Para fazer a queima é preciso solicitar aos órgãos ambientais uma autorização e que o proprietário faça dentro da área permitida, além de implementar medidas para que o fogo não se expanda.

🍂 Seca

 

Nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, os municípios de Rondonópolis, Barra do Garças e Sorriso decretaram situação de emergência por falta de chuvas.

O coordenador explicou que outro fator que pode ter contribuído para o aumento dos focos são as secas frequentes e altas temperaturas. “Desde 2019, a gente tem uma situação de seca, redução no regime de chuvas e isso tem afetado o balanço hídrico”, disse.

Segundo Vinicius, a tendência neste ano também é de bastante seca. Por isso, é preciso fiscalizar essas áreas. Em Mato Grosso, o período proibitivo de queimadas na área rural começa em julho.

“É necessário que no período proibitivo, no auge da seca, que é em julho, de fato não seja utilizado fogo e que as medidas preventivas implementadas sejam da altura da emergência que estamos vivenciando. O estado também precisa empreender ações para os momentos de combate. A resposta rápida que vai Influenciar para termos os menores impactos”, disse.

 

Segundo o meteorologista do Climatempo, Guilherme Borges, normalmente na faixa Norte do estado em março chove em torno de 300 a 350 mm. No entanto, este ano, a chuva foi irregular e abaixo do que é considerado normal. Na ilustração abaixo é possível notar essa irregularidade:

Quantidade prevista de chuva para março X chuva registrada em março — Foto 1: Climatempo — Foto 2: Climatempo

☀️ Altas temperaturas

 

Ainda de acordo com o especialista, outro fator que afeta para o aumento nos focos são as altas temperaturas, especialmente pelo efeito do El Niño desde o ano passado.

“Neste ano, a partir de julho, há 75% de probabilidade de influência do La Niña que infelizmente vai fazer com que a chuva comece um pouco mais tarde. Por isso, o fogo tende a se permanecer mais tempo quando ele é iniciado”, explicou.

 

Segundo o meteorologista Guilherme Borges, Mato Grosso sofreu com uma nova onda de calor, entre os dias 16 à 20 de março. De acordo com ele, o estado passou por temperaturas de 3 a 5 graus acima da média.

🔍 Fiscalização

 

Conforme a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-MT), fora do período proibitivo é possível realizar a queima controlada com autorização do órgão ambiental.

Segundo o órgão, além da limpeza de áreas, essa técnica é uma medida de prevenção aos incêndios de grande proporção por meio do emprego do fogo com monitoramento e controle.

A Sema também informou que em circunstâncias que envolvam queimadas ilegais, incêndios florestais e transporte de produtos perigosos, tóxicos ou nocivos à saúde humana, a competência para fiscalizar, apurar a responsabilidade, aplicar multas e realizar perícia é do Corpo de Bombeiros.

A reportagem procurou os bombeiros, que disse por meio de nota que já aplicou neste ano mais de R$ 1,5 milhão em multas por uso irregular do fogo e que planeja as ações o monitoramento dos focos.

O Noroeste

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