A produção de soja este ano apresentará uma queda de pelo menos 10% por conta da seca em Mato Grosso. O presidente da Aprosoja, Lucas Costa Beber, afirma que produtores são afetados pela estiagem que atrasou o plantio da soja. Segundo ele, o setor terá queda acentuada, mas ainda é cedo para contabilizar o tamanho do prejuízo.
“As perdas podem passar dos 10% se o clima persistir da maneira que está. Nós podemos ter uma redução no plantio da área de milho, por inviabilizar fora da janela. Mesmo assim, a gente acredita que muitos produtores vão insistir, porém, com alto risco de não produzir dentro do esperado por conta do atraso no plantio do milho”, explicou o presidente.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Vilmondes Sebastião Tomain, explicou que com a falha no cronograma de plantio, os produtores ficam recuados em fazer qualquer aplicação que aumente o custo e possa colocar o financeiro da empresa em risco.
“As margens de lucro hoje são altas, o custo operacional é alto. Qualquer ação que você fizer dentro da sua agricultura implica, seja no óleo diesel, na aplicação de defensivos ou qualquer outra. Hoje, o resultado depende muito das circunstâncias, principalmente esse ano, com o clima que está comprometendo a produção. Vamos ter uma queda expressiva esse ano. Pode ter certeza que o produtor não vai fazer nenhuma intervenção que comprometa o negócio”, disse.
Além da queda na produção do grão, produtores estão discutindo sobre a moratória da soja em Mato Grosso. Isso porque mais de 90 prefeitos do estado se juntaram para pedir o fim desse pacto estabelecido pelas tradings, ainda em 2008, que impede a compra da oleaginosa de áreas desmatadas do bioma amazônico. Presidente da Aprosoja disse que empresas que seguem esse acordo têm “vantagens econômicas” e não fazem o devido repasse para os produtores.
No fim de novembro, o governador Mauro Mendes (MDB) afirmou que pretende enviar um projeto de lei à Assembleia Legislativa para cortar os benefícios fiscais das tradings e empresas agrícolas que fazem parte da moratória da soja. O acordo privado proíbe a comercialização de soja de produtos mato-grossenses que ilegalmente abriram novas áreas de terra a partir de 2008.
“A gente acredita que, a partir de agora, se dá o pontapé para realmente ter uma mudança e se fazer justiça com esses produtores que, de fato, estão conservando, estão preservando, mas, mesmo assim, são penalizados por esse acordo”, disse o presidente da Aprosoja.
O presidente da Aprosoja comentou que, atualmente, empresas que aderiram à moratória correspondem a mais de 90% do mercado. Segundo ele, muitos micro-produtores estão sendo afetados, ou seja, podem inviabilizar que eles continuem na atividade.
O grupo de prefeitos intitulado “União dos Prefeitos de Mato Grosso contra a Moratória da Soja” assinou um ofício pedindo a revisão e possível retirada dos incentivos fiscais das empresas signatárias.
Moratória
A moratória da soja é um compromisso criado em 2006 entre representantes da indústria, sociedade civil e o governo brasileiro. Esse instrumento proíbe o comércio, a aquisição e o financiamento de grãos produzidos em áreas desmatadas de maneira ilegal no bioma Amazônia, além de áreas embargadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e em propriedades que constem em lista de trabalho análogo ao escravo do Ministério do Trabalho e Previdência Social. Pela moratória, a Associação Brasileira das Indústrias dos Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais (Anec), que compram grãos no Brasil, se comprometem a não investir em produtores de soja que usam área da Floresta Amazônica da Amazônia Legal.