Além dos contos, uma nova versão do livro mais famoso de Ricardo Dicke, o ‘Madona dos páramos’, foi lançado no Brasil. A ideia de reviver os materiais surgiu após o pesquisador conhecer a história do mato-grossense.
A herança de um escritor ultrapassa o aspecto financeiro e costuma ter um vasto legado literário de ideias, valores, histórias e experiências. Um exemplo disso é o romancista e artista plástico, Ricardo Guilherme Dicke, de Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá, que teve seu livro de romance publicado neste ano e outros 14 contos inéditos que serão lançados, 15 anos após a morte. O responsável por dar vida a esses materiais é o pesquisador da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, Rodrigo Simon de Moraes, em parceria com uma editora brasileira.
O romance é uma nova edição do livro ‘Madona dos páramos’, publicado pela primeira vez em 1982, e já está sendo vendido pela editora responsável pelo lançamento. Já os contos ainda não possuem uma data para estarem nas prateleiras das livrarias.
O pesquisador de literatura, Rodrigo Simon, contou que começou a estudar a vida do romancista quando ainda fazia doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, em 2016. Na época, ele conseguiu o contato da filha de Dicke e passou uma semana na casa do escritor, em Cuiabá, lendo as histórias que, até então, ninguém jamais tinha visto.
“Passei uma semana imerso no universo do Dicke, lendo aquele material e papéis. Fiquei muito impressionado com a riqueza daquilo. A literatura dele é muito forte e original”, disse.
Moraes relatou que conheceu o artista por acaso, enquanto lia uma entrevista entre os falecidos escritores Hilda Hilst e Caio Fernando Abreu.
“Durante a conversa, Caio perguntou à Hilda quais eram os maiores escritores brasileiros na opinião dela e ela disse Machado de Assis, a Clarice Lispector e o Dicke e eu nunca havia escutado aquele nome antes. Quando perguntava para meus colegas sobre ele, muita gente dizia que não conhecia. Como um escritor tão bom se tornou esquecido e quase desconhecido”, questionou.
O pesquisador ainda disse que, com a publicação do livro e dos contos, ele espera que o escritor volte a ser conhecido no Brasil e no mundo, como forma de homenagem.
“Tenho certeza que o Dicke vai voltar não a ser apenas conhecido, mas reconhecido como um dos maiores escritores do Brasil. Essa é a maior expectativa no momento”, disse.
Madona dos páramos
O romance de Ricardo Dicke é uma nova edição do prestigiado livro que retrata uma outra versão do Brasil. A estória retrata o sertão mato-grossense pela visão de doze foragidos que cavalgam pelo centro-oeste brasileiro em busca da terra da Figueira-Mãe.
Críticas
Como o livro foi publicado na década de 80, muitos escritores e artistas tiveram acesso à obra. Veja abaixo algumas das críticas:
- “Um escritor que me comove até a medula é o Ricardo Guilherme Dicke. Eu o considero dono de uma linguagem excepcional, belíssima. Madona dos páramos é uma obra-prima.” – Hilda Hilst
- “Grande oportunidade de (re)descoberta de Ricardo Guilherme Dicke e de sua literatura ferozmente original.” – Marçal Aquino
- “Gênio que viveu recluso.” – Ignácio de Loyola Brandão
- “O injustamente desconhecido Ricardo Guilherme Dicke.” – Joca Reiners Terron
- “Profundo conhecedor de literatura, faz de seu ofício um aprimoramento da arte criativa com a palavra.” – Madalena Machado, Universidade do Estado de Mato Grosso
Quem foi Dicke
Ricardo Guilherme Dicke nasceu no dia 16 de outubro de 1936, no município de Chapada dos Guimarães. Nos primeiros anos de carreira, na década de 1960, publicou o romance inaugural, ‘Caminhos de sol e lua’.
Em 1968, lançou o segundo romance, ‘Deus de Caim’, que recebeu menção honrosa do Prêmio Walmap, cujos jurados incluíam Antonio Olinto, Guimarães Rosa e Jorge Amado. Em 1977, foi agraciado com o Prêmio Remington de Prosa e Poesia por seu romance “Caieira”, que foi publicado no ano seguinte pela editora Francisco Alves.
Em 1981, recebeu o Prêmio Ficção de Brasília pelo romance ‘Madona dos páramos’. Dicke faleceu em 9 de julho de 2008, na cidade de Cuiabá.