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segunda-feira, novembro 25, 2024
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O rei, o papa e a origem do Dia da Mentira

O astrônomo Alexandre Cherman explica as origens do Dia da Mentira.

A Terra Plana fica imóvel no centro do Universo, enquanto Sol, Lua e planetas giram enlouquecidamente ao seu redor, ora por cima, ora por baixo, bamboleando pela borda para não serem percebidos pelos iluminatis reptilianos.

MENTIRA! Tudo mentira. Uma clara homenagem ao “Primeiro de Abril”, Dia da Mentira.

A Terra não é plana, não está parada e de todos os astros citados, a Lua é o único que realmente gira ao redor de nós.

A Terra é um planeta, e como bom planeta que é, gira ao redor do Sol.

Girando e girando ao redor do Sol, independentemente do nome que dermos para esse movimento, a Terra leva 365 dias, 5 horas e 48 minutos para fechar um ciclo.

Chamamos este ciclo de “ano”. O fato de não termos um número exato de dias em um ano, a incomensurabilidade, é sempre um desafio para os calendários.

No nosso calendário, o gregoriano, este desafio é vencido com a criação do ano bissexto, cuja regra não é simplesmente “um dia extra a cada quatro anos”.

A regra do ano bissexto diz que serão anos bissextos todos os anos múltiplos de 4, a não ser que sejam também múltiplos de 100, com a exceção dos anos múltiplos de 400. Complicado? Nem tanto…

Só precisamos ficar atentos aos chamados “anos seculares”, aqueles terminados em 00. Se esses anos forem múltiplos de 400, serão bissextos, como qualquer outro ano múltiplo de 4.

Se não o forem, serão uma exceção à regra e não serão bissextos, apesar de serem múltiplos de 4. Isso aconteceu com o ano 2000, que foi bissexto, e talvez por isso a nossa geração não se dê conta das nuances da regra dos anos bissextos.

O ano 2100 não será bissexto. Nem 2200 e 2300. O próximo ano secular a ter um dia 29 de fevereiro será 2400. Por isso, leitor, tente se lembrar aonde você estava no dia 29/02/00. Essa é a data mais rara do calendário gregoriano!

Um pouco de história

De volta às voltas que a Terra dá ao redor do Sol:

Se quisermos contar as voltas, ou seja, contar os anos, precisamos marcar um “ponto de partida”.

Como estamos falando de um movimento cíclico, esse ponto de partida pode ser tanto um lugar no espaço como uma data. Para a maioria das pessoas, que não tem o hábito de olhar para o espaço, trabalhar com uma data é infinitamente mais simples. Mas qual data escolheríamos para começar o ano?

Historicamente falando, há uma preferência pelo equinócio de primavera. E como houve uma forte colonização global dominada por países e impérios do Hemisfério Norte, estamos, então, falando do equinócio de março.

O primeiro calendário romano, criado por Rômulo quando fundou a cidade, começava justamente no mês de Martius, assim batizado em homenagem ao Deus da Guerra, Marte, supostamente pai de Rômulo (e de seu irmão gêmeo, Remo).

Celebrar o começo do ano no equinócio de março é conhecido como “Estilo da Anunciação”, pois segundo o dogma cristão, foi nessa época que Maria recebeu do anjo Gabriel a notícia de que seria a mãe do filho de Deus.

Há quem prefira o “Estilo da Natividade” e comemore o novo ano no Natal, celebrando o nascimento de Jesus. Oficialmente, e já há muito tempo, usamos o “Estilo da Circuncisão”, celebrando o Ano Novo sete dias depois do Natal.

Esse estilo foi incorporado pelos romanos antes mesmo da reforma de Júlio César, mas incrivelmente só se tornou oficial para a Igreja com a reforma de Gregório XIII.

Tradição de ‘pegadinhas

Mas o que isso tudo tem a ver com as mentiras e o Primeiro de Abril?

Apesar de o início do ano civil ter sido transferido por Júlio César, ainda na Roma Antiga, para o dia 1º de janeiro, o começo do ano litúrgico da Igreja católica permaneceu em 25 de março.

Em 1564, no entanto, o rei Carlos IX da França decretou que seus súditos deveriam respeitar o início do ano juliano como prescrito por Júlio César, em 1º de janeiro.

Os católicos protestaram, uma vez que o calendário eclesiástico ainda se iniciava em 25 de março. Para marcar sua posição, passaram a celebrar de maneira ostensiva a chegada do seu “Ano Novo”.

As comemorações duravam uma semana, fazendo com que o primeiro dia útil do ano fosse, de fato, o dia 1º de abril.

Os súditos mais fiéis do rei francês, que passaram a celebrar o Ano Novo em 1º de janeiro, hostilizavam os católicos que insistiam em usar o “Estilo da Anunciação”.

Com o passar do tempo, as hostilidades deram origem a brincadeiras e “pegadinhas”.

Até que, em 1582, o papa Gregório XIII promoveu o que ficou conhecido como a reforma gregoriana do calendário, oficializando o início do ano eclesiástico em 1º de janeiro e concordando com o ano civil.

Mas a tradição das “pegadinhas” já havia se formado, e acabou exportada para o resto do mundo. Desde então, o dia 1º de abril é conhecido como o Dia da Mentira.

E essa é a mais pura verdade!

Alexandre Cherman é astrônomo, Instituto Fundação João Goulart

**Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original em português.

BBC

Alexandre Cherman – The Conversation*
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