O clima segue castigando as lavouras de soja em Mato Grosso. Após a seca no plantio, agora é a chuva que preocupa os agricultores. Nos municípios de Vera e Feliz Natal, região médio-norte do estado, os produtores iniciaram a colheita das variedades mais precoces com perdas significativas e um prejuízo estimado superior a R$ 500 milhões.
Na propriedade do agricultor Felipe Marochi, no município de Vera, primeiro foram os 52 graus de sol e a falta de umidade no solo que prejudicaram o desempenho dos 1,7 mil hectares destinados para a soja. Agora, em plena colheita dos primeiros 30% da área, ele enfrenta um novo desafio: o excesso de chuvas.
Segundo Felipe, em um talhão ele chegou a registrar um acumulado de 350 milímetros, o que causa transtornos e riscos de novas perdas na lavoura.
“Isso está fazendo atrasar a colheita e causando perda. Está dando soja avariada, podre já. A soja já chegou quase a morrer [por seca], agora está perdendo por excesso de chuva. Estamos colhendo com 28, 30 de umidade. Essa soja iria ser uma soja que iria salvar a gente, uma soja de pivô que era uma produção de umas 80 sacas, mas aí acho que não chega a 60”, diz Felipe que acredita ter perdas acima de 40% em relação ao ciclo passado.
O clima desfavorável também frustra as expectativas do agricultor Ivan Zilli. Em algumas áreas dos 1,1 mil hectares cultivados nesta safra, ele estima perdas de até 90% na plantação.
Ivan conta que colheu um pouco da área e depois não conseguiu mais adentrar na lavoura em decorrência das chuvas.
“Dos 1,1 mil hectares, as perdas são de uns 40% a 50% e, assim, vamos ver como que será a colheita que tem no campo, se vai ter mais perdas por conta da chuva na hora de colher”.
De acordo com o Sindicato Rural que representa os municípios de Vera e Feliz Natal, que juntos nesta safra cultivaram aproximadamente 430 mil hectares de soja, as perdas nas primeiras áreas da oleaginosa causadas pela influência negativa do clima adverso podem chegar aos 40%, além de deixar um prejuízo milionário no campo.
Rafael Bilibio, presidente do Sindicato Rural, comenta que as médias estão chegando a oito sacas por hectare.
“As primeiras áreas colhidas, com exceção dos pivôs, que também tiveram quebra de produção, foram bem frustrantes entre oito e 15 sacas por hectare. Isso representaria entre R$ 600 milhões a R$ 700 milhões de perdas. Aqui foram 47 dias de sol, sem chuva. Acredito que vai ter, inclusive, quebra de contrato. Não vão conseguir entregar a produção”.
Segundo Rafael, a prefeitura de Feliz Natal já decretou estado de emergência, enquanto a de Vera deve emitir nesta semana.
Presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber, frisa que a situação é preocupante, uma vez que, além da quebra dessas primeiras sojas, a qualidade do grão pode ficar comprometida para muitos produtores devido ao excesso de chuva.
“A chuva chega em excesso em um momento que o produtor precisa de mais normalidade para poder fazer a colheita. Afeta e, também, preocupa a questão da sustentabilidade financeira desses produtores. A gente sabe que não é generalizado, mas alguns produtores devido a esses anos melhores fizeram investimentos, aumentaram áreas. E, em um ano como esse, muitos que estão colhendo essas médias muito abaixo não vão conseguir nem os custos básicos da lavoura”.
O presidente da Aprosoja-MT salienta que “sempre se fala em parceria e agora é a hora [das empresas e agentes financiadores] de mostrar a parceria de verdade”.
“Dois anos atrás tivemos o problema da entrega de químicos, principalmente para a dessecação, aonde o produtor teve que entender e buscar alternativas e muitas vezes pagar mais caro. Agora é a hora das empresas mostrarem essa parceria. Mas, é claro que a gente fala que o produtor tem que ser cauteloso, agir de forma idônea e comunicar a empresas de forma antecipada. Contratar um agrônomo de confiança para fazer laudos técnicos e sempre buscar uma assessoria jurídica de qualidade para evitar prejuízos maiores”.
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