O presidente Luiz Inácio Lula da Silva dará continuidade nesta semana à sua agenda internacional, poucos dias depois de voltar do continente africano. Na quarta-feira (28/02), irá a Georgetown, capital da Guiana, onde participa como convidado do encerramento da 46ª Cúpula de Chefes de Governo da Caricom, a Comunidade do Caribe. Na quinta, Lula embarca para Kingstown, capital de São Vicente e Granadinas, onde marca presença sexta-feira na 8ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, a Celac.
Os dois compromissos visam ampliar a integração regional, uma das prioridades estabelecidas por Lula para a diplomacia. A expectativa é que o presidente trate da relação comercial com os integrantes das cúpulas e de temas comuns para a região, como o combate à fome e à pobreza. Apesar de a visita à Guiana ocorrer em meio à disputa com a Venezuela pela região de Essequibo, o Itamaraty destacou que não há previsão de que o presidente discuta diretamente o tema.
Os detalhes da viagem foram informados durante o briefing do Itamaraty na sexta-feira. A decolagem de Lula ainda não está marcada, mas deve ocorrer na manhã de quarta, já que o voo para Georgetown é de apenas três horas e meia. A Caricom reúne 15 países e é uma das organizações de integração regional mais antigas do mundo. Para a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina do Ministério das Relações Exteriores, o diálogo com o bloco é estratégico para a posição brasileira, uma vez que os países representam 7% das cadeiras na Organização das Nações Unidas (ONU) e 40% da Organização dos Estados Americanos (OEA).
“Nós temos afinidades históricas, étnicas e culturais que nos aproximam naturalmente dos países da região”, disse a embaixadora. Ela anunciou que Lula deve ter uma reunião bilateral com o presidente da Guiana, Irfaan Ali. O país ganhou importância comercial considerável após a descoberta recente de reservas de petróleo e gás. Entre 2021 e 2023, a economia saltou 400%, de US$ 8 bilhões para mais de US$ 40 bilhões.
Gisela também ressaltou que a explosão econômica guianense teve reflexos na relação com o Brasil, com salto de 1000% na balança comercial nos últimos três anos. “Isso é inédito em qualquer momento da história brasileira. Foi de US$ 60, US$ 70 milhões por ano para US$ 1,3 bilhão, basicamente em compras brasileiras de petróleos e derivados”, explicou.
O salto econômico é um dos motivos para o conflito com a Venezuela, que reivindica a região e Essequibo — justamente onde foram encontradas as jazidas de petróleo. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chegou a ameaçar uma invasão militar. O Brasil, por sua vez, entrou em contato com os dois lados e media agora as negociações.
Questionada sobre o encontro de Lula com Irfaan Ali em meio ao conflito, a secretária do Itamaraty negou que seja uma manifestação de apoio a algum dos lados. “O Brasil não se manifesta a respeito do cerne da questão entre Guiana e Venezuela, porque não nos compete. O que nos compete é facilitar o diálogo”, respondeu Gisela. “Estamos facilitando o diálogo, mas são os dois que têm que chegar a um acordo. Isso nós temos conseguido. Mas não tem nenhum sinal, o Brasil é absolutamente neutro”, emendou. Segundo ela, o que pode ocorrer é Lula felicitar o presidente da Guiana por aceitar o diálogo com a Venezuela.
Já sobre o Caricom, o ministro Elio Cardoso, diretor do Departamento de México, América Central e Caribe do Itamaraty, afirmou que o grupo possui interesses muito alinhados com a presidência do Brasil no G20, que vai até dezembro. Especialmente, no combate à fome e à desigualdade. “Há possibilidade de reuniões bilaterais com os membros da Caricom”, disse.
Na sexta-feira, a agenda de Lula será com a Celac, bloco maior que reúne 33 países. Um dos primeiros atos do presidente na política externa foi reincorporar o Brasil ao grupo, que deixou em 2020 por decisão de Jair Bolsonaro. A ministra Daniela Benjamin, diretora de Integração Regional do Itamaraty, avalia que o bloco ficou paralisado após a saída do Brasil, e está agora em processo de revitalização.
“Teremos, nessa cúpula, a oportunidade de fazer uma avaliação sobre os progressos que estão sendo alcançados, e saber como será ampliada a cooperação daqui a frente”, pontuou. Há ainda a expectativa de um encontro bilateral com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, além de uma possível reunião trilateral com autoridades da Guiana e do Suriname. Um dos temas em discussão seria a integração do transporte entre os três países, já que há dificuldades no acesso atualmente. Outros tópicos incluem o combate ao crime transnacional e a proteção às comunidades indígenas da região amazônica.
A comitiva presidencial ainda não está montada. A expectativa é que, além do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, Lula seja acompanhado também pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. No início do ano, ela lançou uma iniciativa justamente para investir na integração física com países vizinhos. O projeto inclui a criação de cinco rotas para ligar, pelo menos, 11 nações da América do Sul.
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