Lula recebe o presidente da Itália, Sergio Mattarella, e reforça: da parte dos sul-americanos, não há empecilhos para que seja celebrada a conexão comercial — principal resistência está na França, cujo governo é pressionado pelos agricultores
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou, ontem, que o Brasil tem interesse em concluir o mais rápido possível o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Mas jogou a responsabilidade sobre o avanço nas negociações para os europeus, que devem resolver “suas próprias contradições internas”.
“Explicitei que o avanço das negociações depende de os europeus resolverem suas próprias contradições internas. Medidas como a taxa de carbono imposta de forma unilateral pela União Europeia podem afetar cinco dos 10 produtos brasileiros mais exportados para o mercado italiano. Como fiz na recente Cúpula do Mercosul, em Assunção (capital do Paraguai), reiterei ao presidente italiano o interesse do Brasil em concluir, o quanto antes, um acordo que seja equilibrado e que contribua para o desenvolvimento das duas regiões”, observou Lula, dirigindo-se ao presidente da Itália, Sergio Mattarella.
O dirigente italiano concordou e deixou claro que a aprovação rápida do acerto entre os dois blocos é do interesse do seu país. “Consideramos que é indispensável chegar rapidamente a uma decisão”, assegurou.
Para Mattarella, a conexão comercial Mercosul-UE tem um “significado histórico”, pois aproxima os blocos também politicamente. “Duas grandes realidades de colaboração e de paz, o Mercosul e a União Europeia, em benefício do mundo. O tecido de colaboração entre as integrações continentais é um elemento para garantir a paz”, frisou.
O principal empecilho ao fechamento do acordo entre os blocos é o governo da França. O presidente Emmanuel Macron é fortemente pressionando pelos agricultores do país. Inclusive, em 27 de março, disse em São Paulo que a base do acerto Mercosul-UE é “péssima”.
Reino Unido e França
Na declaração dos dois presidentes, Lula disse que, na conversa, com Mattarella manifestou satisfação com a vitória das forças “democráticas e progressistas” nas eleições da França e do Reino Unido. “São fundamentais para defesa da democracia e da justiça social contra as ameaças do extremismo”, apontou.
Porém, se Lula e Mattarella têm as opiniões semelhantes quanto à conexão Mercosul-UE, no que se refere à guerra na Ucrânia os pontos de vistas estão um pouco mais distantes. O presidente italiano fez questão de reforçar, em algumas oportunidades, que a invasão pelas tropas russas é inaceitável e não pode ser tolerada à luz do direito internacional. Já o brasileiro reforçou a importância do diálogo pelas vias diplomáticas para que o conflito acabe.
A visita de Mattarella ao Brasil celebra o 150º aniversário da imigração italiana e deve incluir visitas a São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Rio Grande do Sul — estados com forte presença de descendentes de italianos. O presidente italiano desembarca, hoje, em Porto Alegre, num gesto de representação da solidariedade dos italianos — que enviaram mais de 20 toneladas de ajuda humanitária ao estado, depois da enchente que devastou o Rio Grande do Sul a partir do começo de maio.
A reunião com Mattarella acontece depois de Lula ter se encontrado com a primeira-ministra Giorgia Meloni, durante o encontro do G7, em meados de junho. A Itália foi a anfitriã do evento e o presidente teve uma reunião bilateral com a premiê no último da cúpula. Lula aproveitou a presença do presidente para convidar Giorgia a visitar o Brasil.