Nesta segunda-feira, 8 de janeiro, quando completa-se um ano do fatídico dia em que extremistas invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, direita e esquerda devem sair às ruas, em um país que continua dividido e extremamente polarizado. Na internet, grupos bolsonaristas organizam atos pelo país, inclusive na capital federal. Ainda não se sabe qual a amplitude real das mobilizações. No entanto, o governo monitora as movimentações para garantir que os atentados que deixaram o país perplexo no começo do ano passado não ocorram novamente.
A principal preocupação é com o risco de bloqueio de estradas. Nas redes sociais, caminhoneiros independentes convocam seus pares para atos em rodovias federais, a fim de bloquear o fluxo de veículos. Até o momento, integrantes do Ministério da Justiça avaliam que não existe motivo de preocupação, mas não descartam a possibilidade de protestos isolados que podem gerar transtornos em diversos estados. Ao mesmo tempo, grupos de movimentos sociais também planejam a realização de atos, em prol da democracia.
O temor é de que ocorram hostilidades entre os dois grupos. Os movimentos de esquerda pretendem se mobilizar em locais que foram ocupados pela direita radical durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, como a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, a Orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, e a Avenida Paulista, em São Paulo. Cerca de 100 integrantes de movimentos sociais diversos foram convidados para participar da cerimônia que ocorrerá no Senado, nesta segunda-feira, às 14h. O evento vai reunir autoridades dos Três Poderes.
A maior atenção é, novamente, com a Esplanada. Os acessos à região devem começar a ser fechados hoje, um dia antes do evento. Desta vez, as forças de segurança de Brasília, como a Polícia Militar e o Departamento de Trânsito, vão ficar de olho na entrada incomum de veículos. Em janeiro do ano passado, caminhões e ônibus vieram de diversos estados, como Santa Catarina, Pará e Mato Grosso, para participação nos atos, seja levando manifestantes até o acampamento que estava montado no Quartel-General do Exército, seja tentando acessar a Esplanada.
A professora Vera Chemim, especialista em direito constitucional, afirma que, independentemente do 8 de janeiro, “o país continua dividido do ponto de vista político-ideológico”.
“Com uma diferença: aquela polarização tornou-se sutil, cautelosa, sobretudo no que se refere à direita brasileira, que se limita a exteriorizar as suas posições por meio dos seus representantes políticos e alguns influenciadores”, diz.
Para a especialista, no entanto, não existe risco, atualmente, de outra depredação, pois naquele momento, os participantes do atentando estavam atuando de maneira desordenada, e não seriam capazes de estabelecer uma tomada de poder.
“É possível afirmar que se tratava de uma multidão sem qualquer propósito racional e fora de controle que extrapolou todos os limites de uma sociedade civilizada”, ressalta.
A Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) também monitoram os riscos de eventuais atos extremistas. A reportagem do Correio verificou que mensagens compartilhadas nas redes sociais, assim como perfis, começaram, nos últimos dias, a mencionar o codinome “Festa da Selma”, que há 12 meses foi usado como código para chamar extremistas até Brasília.
O termo, identificado pela PF, é citado no inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar a dinâmica dos atentados. As comunicações desses grupos ocorrem especialmente em aplicativos de mensagens com criptografia ponta a ponta, como o Telegram. No entanto, neste ano, não devem contar com financiadores, justamente em razão das consequências do atentado em investigação — mais de mil pessoas foram presas nos dias seguintes às depredações.
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