Queimadas, que começaram mais cedo neste ano, saltaram mais de 1100% no bioma em comparação com 2023.
Só nos primeiros 12 dias deste mês, o Pantanal já registrou o maior número de focos de incêndios para um mês de junho de toda a série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), iniciada em 1998.
De 1º de junho até essa quarta-feira (12), 733 focos de queimadas foram registrados em todo o bioma, que no Brasil fica no Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso. Vídeos mostram a destruição na área (veja acima).
Os dados são do Programa de BDQueimadas, do Inpe, que usa satélites de referência para mapear os focos de incêndio no bioma.
Se comparados os dados de todos os meses de junho desde 1998, o ano de 2024 é o pior. Em segundo, está junho de 2005 quando foram 435 focos. Se comparados os dados de 2024 e 2005, o aumento neste ano é de 77% (veja o gráfico abaixo):
Nem em 2020, quando incêndios consumiram 26% do bioma, foram registrados tantos focos de incêndio como em junho de 2024. Na comparação com 2020, quando foram 406 focos em todo o mês de junho, o aumento de focos de queimada já é de 90% neste ano.
Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ), até maio deste ano, 332 mil hectares do bioma foram consumidos pelas chamas. O Pantanal tem 16 milhões de hectares.
A extensão destruída entre janeiro e maio superou em 39% o registrado no mesmo período de 2020, o pior ano da série histórica até então. Desde janeiro de 2024, uma área duas vezes maior que o tamanho da cidade de São Paulo já queimou no Pantanal, conforme o Lasa-UFRJ.
- 🔥 2024: 1632 focos de incêndio entre 1º de janeiro e 12 de junho;
- 🔥 2023: 133 focos de incêndio entre 1º de janeiro e 12 de junho.
Seca e incêndios
Número de focos de incêndios no Pantanal já é o segundo maior dos últimos 15 anos
Para especialistas, a escalada do fogo em 2024 caminha para um cenário semelhante ao de 2020, até então o pior ano para o Pantanal desde o fim da década de 1990. Um estudo realizado por 30 pesquisadores de órgãos públicos, universidades e ONGs estimou que, naquele ano, ao menos, 17 milhões de animais vertebrados morreram em consequência direta das queimadas no Pantanal.
O representante da ONG SOS Pantanal, o biólogo Gustavo Figueirôa, vê com muita preocupação o aumento das chamas e o início de um período mais seco no bioma.
“Vemos estes incêndios se alastrando de forma muito rápida, ganhando uma força grande e a tendência é só piorar daqui para frente. Acho que esse é o sinal para que os órgãos públicos ajam em conjunto, cooperem para atuar quanto antes, não esperar a situação sair completamente fora de controle para tentarem atacar só na remediação”, pontua Figueirôa.
O especialista em conservação da WWF-Brasil, Osvaldo Barassi Gajardo, lembra que 2024 começou de forma atípica. Em janeiro, a região da Serra do Amolar – santuário da biodiversidade no Pantanal – já enfrentava o fogo.
Para o especialista da WWF-Brasil, os fenômenos climáticos como El Niño e La Niña contribuíram negativamente para a ampliação do período de seca, que consequentemente maximiza a temporada de queimadas no Pantanal.
“Estamos numa situação de mudanças climáticas, demonstrando alterações nos ciclos, no clima. Em terrenos mais secos, os efeitos do El Niño trazem impactos de baixa nas chuvas, no regime de chuva, baixa nos rios, e começa até um cenário que prevê uma sequência. Então, este ano, já no início, já começávamos pensando e falando que o Pantanal ia vivenciar uma situação complexa”.
“Quando conversamos com pessoas que estão na região do Pantanal, pesquisadores, especialistas, pessoas de ONGs, muitos já reforçam a questão de que este ano pode ser até mais crítico que 2020. No início do ano, o nível do rio Paraguai já demonstrava baixa, um cenário pouco favorável”, detalha Gajardo.
O biólogo da SOS Pantanal acompanha as queimadas no bioma há anos. Para o pesquisador, além de uma atenção imediata da União e governos estaduais, o apelo se estende aos governos internacionais.
“Existem mecanismos para pedir esse tipo de ajuda internacional. Se o poder público não tem os equipamentos, os recursos necessários, que eles peçam ajuda quanto antes, que não esperem a situação sair completamente fora de controle para correr atrás do prejuízo”, disse Gustavo Figueirôa.
Para o especialista da WWF-Brasil, além de uma resposta mais ágil aos incêndios, o trabalho de combate deve seguir de forma integrada. “Integração dos diferentes órgãos municipais, estaduais, brigadas voluntárias, comunitárias, de governos, todos juntos, integrados e com um bom planejamento. Isso pode responder em um atendimento rápido aos eventos, um combate imediato antes que a situação se agrave”.
Falta de chuva derruba nível do rio Paraguai
Outra preocupação é com a seca na região. Em Corumbá, uma das principais cidades do Pantanal sul-mato-grossense, praticamente não chove há mais de 50 dias, de acordo com meteorologistas da região. Com os incêndios florestais e a baixa umidade do ar, uma densa fumaça se concentra sobre a cidade.
Segundo levantamentos do Serviço Geológico do Brasil (SGB), o baixo nível do rio Paraguai, principal bacia do pantanal, já é recorde.
Em Ladário – cidade vizinha à Corumbá – o nível tem registrado quedas ou estabilidade na medição há cerca de um mês. O órgão aponta que, para este período, a média histórica do nível do rio em Ladário era de 3,85 metros.
Na última sexta (7), no entando, a régua de medição do rio Paraguai em Ladário marcava 1,38 cm. Ou seja, 2 metros e 47 cm abaixo do esperado.