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‘Falta água’, ‘Já fui assaltada’, ‘Transporte pode afetar minha formação’: o que motiva os jovens a votar nessas eleições

Segundo dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em julho deste ano, o eleitorado jovem (entre 16 e 17 anos) do Brasil chegou ao total de 1,83 milhão de pessoas — índice 78,16% maior que o número de eleitores desta faixa etária registrados para votar nas últimas eleições municipais.

Esse número inverte uma tendência de queda observada entre os jovens desde 2016. No entanto, 2020 foi marcado pela pandemia de Covid-19, o que pode ter afastado eleitores das urnas. Na época, 1.030.563 jovens foram registrados.

Em outubro, o Brasil vai às urnas eleger novos prefeitos e vereadores, e o g1 ouviu jovens de várias regiões do país para entender por que decidiram votar nessas eleições municipais. Temas como escassez de insumos básicos, segurança, educação, saúde e transporte foram citados. (veja abaixo)

‘Na escola, às vezes, falta água’

 

A falta de água é um problema que atinge a cidade de Várzea Grande, em Mato Grosso, há anos e, pensando nisso, a estudante Emilly Caroline Ramos de Siqueira, de 17 anos, resolveu tirar o título e votar para mudar essa realidade.

Emilly Caroline Ramos de Siqueira, de 17 anos — Foto: Arte/g1

A jovem mora no Bairro Parque do Lago, onde a água chega a cada dois dias. No entanto, a região onde vivem os avós, e onde ela estuda, no Bairro Cristo Rei, a falta de água é ainda mais frequente.

“Vejo diariamente muitas dificuldades em relação à água na cidade. Por exemplo, na escola, às vezes falta água e precisam suspender as aulas, ou meus avós ficam sem água, e aí não conseguem fazer as higienes direito”, acrescentou.

Já o problema citado como motivo para o voto da Amanda Silva, de 16 anos, é o lixo espalhado pelas ruas do bairro 40 Horas, em Ananindeua, região metropolitana de Belém.

“A vida é bem difícil por aqui, pra mim, pra minha mãe, e fica ainda mais difícil com o lixo espalhado pelas ruas, então acaba sendo um sacrifício vivido por todos aqui”, disse.

 

“Ir às urnas faz com que eu também tenha voz nessa decisão de eleger pessoas realmente comprometidas com a nossa comunidade”, completou.

‘Já fui assaltada indo pra escola’

 

Moradora do bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife, a estudante Letícia Minucelli, de 16 anos, afirma que quer votar para tentar diminuir o quadro de insegurança no bairro onde vive.

Letícia Minucelli, de 16 anos — Foto: Arte/g1

Ela também relata sensação de insegurança na própria escola: “A minha escola sempre pedia o apoio de uma viatura e nunca estava lá, sabe? A violência que tem aqui, que já teve vários casos aqui perto da UFPE, com mulheres violentadas”, completou.

‘Transporte pode afetar minhas notas’

 

A estudante soteropolitana Yasmin Amorim, de 17 anos, tem como sonho passar no vestibular da Universidade Federal da Bahia, e uma de suas preocupações é o transporte entre sua casa e a universidade num futuro próximo.

“Acho que a infraestrutura dos ônibus convencionais está ultrapassada, nem perto da qualidade que os ônibus elétricos, recém-chegados na Praia do Flamengo. (…) A estrutura dos pontos também não é das melhores, muitos pontos aqui são apenas lonas com uma placa no poste, não existe uma estrutura, ou um ponto de apoio de fato para o passageiro que aguarda”, relata a jovem.

Para ir e voltar de casa, segundo a estudante, serão quatro ônibus por dia e duas viagens de metrô. Da UFBA, localizada no bairro do Canela, até a Praia do Flamengo, bairro onde ela mora, são mais 30 km de distância.

Yasmin Amorim, de 17 anos — Foto: Arte/g1

Educação

 

Na periferia de Olinda, no bairro do Alto da Bondade, em Pernambuco, Iago Pereira, de 16 anos, relatou a falta de itens básicos na escola onde estuda.

Iago Pereira, de 16 anos — Foto: Arte/g1

Iago diz que visa mudar essa realidade através do voto.

“É a minha primeira vez como eleitor e ainda não sei como funciona. Estou bastante ansioso, porque essa ação, de escolher um candidato a prefeito e a vereador, vai impactar tanto agora, na minha região, como no futuro. É uma decisão complicada”, afirmou.

Influência familiar

 

Questionados, muitos desses jovens disseram que a família teve um papel crucial na vontade de votar e que o sentimento, muitas vezes, é de nostalgia. É o caso de Laura Werner, de 17 anos, moradora de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo (RS).

“Votar sempre foi uma coisa que eu me interessei desde pequena. Lembro quando meus pais iam votar, eu sempre pedia para ir com eles. Aí na hora que eles iam digitar os números, eu sempre perguntava ‘posso apertar?’ e minha mãe não deixava”, relembrou.

Ela conta que seu bisavô foi parlamentar e que isso também a fez pensar no voto e reconhecer a importância de uma eleição municipal.

Laura Werner, de 17 anos — Foto: Arte/g1

Maria Clara Cruz, de 16 anos, eleitora de primeira viagem, tem uma história parecida — muito da sua vontade de votar se dá por conta da família. Ela mora em Teresina (PI), mas vota em São João da Serra, a 133 km da capital, por causa dos avós.

“Meus avós têm alguns problemas de saúde, então precisam ir para Teresina de vez em quando. Minha avó é hipertensa, e meu avô é diabético. Ele já fez duas cirurgias na capital”, disse a jovem.

Maria Clara Cruz, de 16 anos — Foto: Arte/g1

Ela conta que os familiares têm costume de tirar o título cedo e que quer ver melhorias no sistema de saúde da cidade, que hoje faz apenas exames simples, enquanto os mais elaborados são feitos somente na capital.

‘Meu primeiro ato democrático’

 

Segundo o TSE, os 1,83 milhões de jovens entre 16 e 17 anos aptos a votar representam 1,17% do total de 155 milhões de pessoas que devem ir às urnas em outubro. Muitos dos jovens ouvidos pela reportagem também citam o voto como o primeiro ato democrático. É o caso da estudante sergipana Clara Almeida, de 17 anos.

Clara Almeida, 17 anos — Foto: Arte/g1

No Rio de Janeiro, a jovem Bruna Silva Mourilhe Rocha, de 17 anos, tirou seu título de eleitora assim que fez 16, no ano passado. Interessada em política, ela acredita que a mudança do país pode vir das urnas.

“Gosto de entender e estudar sobre nosso andamento do país e as relações de poder existentes. Assim que fiz 16, tirei o título porque um voto pode fazer diferença no futuro”, destaca a adolescente.

 

Isadora Vieira Silva, estudante de 17 anos, tirou o título de eleitor recentemente em Florianópolis e conta que votou pensando no futuro.

“O que me motivou a tirar o título para as eleições desse ano é pensar no meu futuro. (…) Eu não tenho uma visão das coisas que vão acontecer, então, se eu não pensar no meu futuro, se eu não escolher o que quero para mim, para o meu país, para a sociedade em si, eu vou viver num ambiente muito fechado, numa bolha”, relatou.

*Colaboraram para a reportagem: Eric Souza, Thaís Espírito Santo, John Pacheco, Kessillen Lopes, Carolina Mota, Rafael Souza, Madu Brito, Antônio Cardoso e Mateus Xavier.

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