Lucas Veloso Peres, de 27 anos, morreu após passar mal e se afogar quando fazia um treinamento, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá.
O primeiro dia de julgamento sobre o caso da morte do aluno Lucas Veloso Peres, de 27 anos, que morreu após se afogar durante um treinamento do Corpo de Bombeiros, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, há oito meses, ouviu cinco testemunhas que disseram como eram os treinamentos conduzidos pelo capitão Daniel Alves, que é réu pela Justiça por envolvimento na morte da vítima. O julgamento ocorreu nesta segunda-feira (11) e foi conduzido pelo juiz Moacir Rogério Tortato, da 11ª Vara Criminal da Justiça Militar.
Além das testemunhas, também foram ouvidas a defesa de Daniel e a promotorira do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT).
Há quatro meses, a Justiça de Mato Grosso decidiu tornar réus o capitão Daniel Alves de Moura e Silva e o soldado Kayk Gomes dos Santos pela morte do aluno.
O que dizem as testemunhas
A primeira pessoa a prestar depoimento foi um dos colegas de curso de Lucas, que costumava acompanhar a vítima durante os treinamentos. No testemunho ele informou que, antes mesmo da morte de Lucas, o capitão que o acompanhava tinha uma fama de ‘louco’ na corporação pela forma bruta e agressiva que costumava tratar os alunos.
O soldado disse ainda que, quando iniciavam o treinamento, os soldados mais antigos da corporação os aconselhava a tomarem cuidado com o capitão devido às situações que ele submetia os alunos, como de exaustão intensa.
Além disso, o soldado informou que alguns alunos passaram mal durante as aulas e se queixavam de exaustão, mas que o capitão costumava encarar os episódios como “frouxura e frescura” e pedia para que os alunos seguissem com os treinamentos mesmo passando mal, como foi o caso do Lucas.
“Ele [o capitão] não admitia frouxura e falava que não se importava de perder a farda por isso. Durante os treinamentos, alguns vomitavam e passavam mal”, disse.
Ao fim do primeiro dia de julgamento, a Justiça deu o prazo de cinco dias para que a defesa do capitão se manifeste. Segundo o juiz, a audiência deverá retornar no dia 19 de fevereiro para sessão de instrução com oitiva das testemunhas de defesa e interrogatório dos réus.
Veja a cronologia do afogamento:
- Durante a atividade, o capitão pediu para que os alunos se organizassem em grupos de quatro pessoas, mas pela falta de dois alunos no dia, a equipe se organizou em grupos de seis e Lucas fez parte do último grupo a completar o percurso. A cada dois alunos, um deveria portar o flutuador e a vítima foi uma das escolhidas.
- Durante o nado, Lucas teve dificuldades em continuar por exaustão e usou o flutuador para descansar. O capitão então determinou que a vítima soltasse o flutuador e continuasse o nado crawl várias vezes.
- Lucas tentou continuar o nado diversas vezes, mas o capitão ameaçava tirar o equipamento de segurança. Momentos depois, pediu para que o soldado retirasse o flutuador da vítima e o mesmo soldado aplicou diversos caldos – expressão popular utilizada para se referir quando a pessoa mergulha contra a vontade – em Lucas.
- O documento ainda diz que Lucas pedia constantemente para sair da água e gritava por socorro. O capitão então desceu do pranchão, equipamento usado para salvamento aquático, em que estava e ordenou que os outros alunos seguissem na frente e deixassem a vítima para trás, sob a sua supervisão. Quando virou, percebeu que Lucas tinha submergido.
- Ao retornar à superfície, Lucas estava inconsciente, teve uma parada cardiorrespiratória e morreu no local.
Entenda o caso
No dia 27 de fevereiro, Lucas morreu enquanto participava de um treinamento para se tornar soldado do Corpo de Bombeiros, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá. Lucas era natural de Goiás e, quando morreu, realizava uma instrução de salvamento dentro d’água. O exame de necropsia apontou que a vítima morreu afogada.
Na época, foi confirmado pelos próprios bombeiros que o jovem foi socorrido pelas pessoas que acompanhavam o treinamento e levado a um hospital particular da capital, no entanto, não resistiu e morreu na unidade de saúde.
Inicialmente, o delegado da Polícia Civil, Nilson Farias, disse que Lucas chegou a passar mal na lagoa. Porém, prints de conversas em grupos de WhatsApp entre alunos do curso sugeriram que Lucas levou um ‘caldo’ – expressão popular utilizada para se referir quando a pessoa mergulha contra a vontade.
Na conversa, alguns dos alunos contaram que estavam presentes no momento da morte de Lucas e que viram o que aconteceu.
Em março, o Governo de Mato Grosso assinou um decreto que prevê obrigatoriedade de gravação de treinamentos do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar no estado. A informação foi confirmada pela assessoria do governador Mauro Mendes (União).