Apesar de ter o maior rebanho bovino do país, com cerca de 14,6% do efetivo nacional, a principal atividade econômica de Mato Grosso é produção e exportação de grãos, mais especificamente milho e soja. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, em 2022 o estado contribuiu com 30,2% da produção nacional de grãos.
Um volume grande como esse exige também um transporte capaz de fazer escoar a carga de maneira eficiente. A Gazeta O professor Luis Otávio Bau Macedo, da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), explicou que o meio mais vantajoso, em vários sentidos, inclusive ambiental, é o uso de ferrovias.
De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022 Mato Grosso produziu cerca de 38 milhões de toneladas de soja e 38,3 milhões de toneladas de milho, sendo o maior produtor do país para ambos os grãos. A maior parte desta produção foi escoada por rodovias.
Mato Grosso possui apenas uma ferrovia, a Ferronorte, que liga o estado ao Porto de Santos, em São Paulo. O professor explicou que este modal é mais eficiente não só no sentido da logística, mas é também mais econômico ao produtor.
“Em função de ter uma capacidade de transporte maior e estar vinculada a uma escala de transporte maior, o custo por tonelada da soja ou do grão, ou de qualquer transporte, é menor que da o rodovia, ou seja, o frete por tonelada é mais baixo”.
Ele explicou que o produtor, quando faz a venda, tem descontado no valor que recebe o custo de logística até o porto.
“A trading, ou seja, a empresa que faz a compra e a logística, elas fixam preço pago ao produtor pela diferença entre o preço de exportação menos o custo de logística até o porto. Se esse custo de logística diminui, o preço líquido ao produtor aumenta, então aumenta a rentabilidade para o produtor”.
Macedo também pontuou que a ferrovia é mais segura, não estando sujeita aos problemas que o transporte rodoviário sofre (como acidentes ou baixa qualidade de estradas), beneficiando ainda a população, já que diminui o tráfego de caminhões nas estradas.
“Mesmo com a ferrovia o transporte rodoviário não diminui, ou seja, o frete rodoviário em si não vai diminuir, o que ocorre é que ele muda. Ele vai ser um frete rodoviário de curta distância, da fazenda à trading, e de lá até o terminal. Ao invés do caminhoneiro fazer viagens longas ele vai fazer várias viagens curtas”, esclareceu.
Um dos pontos mais relevantes, entretanto, é o menor impacto ambiental do modal. Os esforços de uma legislação firme para prevenir danos ambientais, e dos produtores que respeitam esta legislação, não terão tanta eficácia se, no transporte destas cargas, a degradação não for mínima.
O professor da UFR explicou que o transporte por ferrovia gera menos emissão de gases de efeito estufa e, por tonelada exportada, reduz a pegada de carbono na produção, além de diminuir a ameaça de invasão e desmatamento em seu trajeto.
“Então até a questão ambiental é beneficiada. Essas ferrovias mais para o norte, próximas a áreas de proteção ambiental e coisas do gênero, a ferrovia a ajuda porque permite um controle maior dessas cargas, os ramais já são organizados para essa logística”.
Projetos de ferrovias
Terminal de Alto Taquari
Mato Grosso tem alguns projetos de ferrovia em andamento. Além da expansão da Ferronorte, que atualmente liga Rondonópolis ao Porto de Santos, a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra) também cita o projeto da Ferrogrão, que busca conectar Mato Grosso ao Pará via trihos.
Existe também o projeto da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste, também conhecida como FICO, que busca interligar as ferrovias Mato Grosso à Ferrovia Norte-Sul e também fará parte do projeto da Ferrovia Transcontinental, que propõe conectar o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico.
Além destas, existe também o projeto da ferrovia estadual Senador Vicente Emílio Vuolo, que busca trazer os trilhos a Cuiabá.
Aproximação do agro com a capital
Um dos principais articuladores da ferrovia Senador Vicente Emílio Vuolo é o secretário Municipal de Agricultura, Trabalho e Desenvolvimento Econômico, Francisco Vuolo.
Ao Site/GazetaDigital ele afirmou que o andamento das obras da ferrovia estadual está dentro do previsto, mas ainda assim ele, com os membros do Fórum Pró-Ferrovia e deputados da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, tem estado próximo da diretoria da Rumo S. A., responsável pela instalação do modal.
“Ocorre que as licenças solicitadas pela Rumo, são 4 licenças a serem autorizadas pela Sema, são dos trechos que saem de Rondonópolis, vão até Juscimeira, de Juscimeira até Campo Verde, e outro de Campo Verde a Primavera do Leste, ou seja, a ferrovia e as licenças para Cuiabá a Rumo ainda não havia solicitado. Diante desse cenário eu estive em São Paulo reunido com o vice-presidente da Rumo, Guilherme Penin, onde ele assumiu que no mês de junho deste ano a Rumo estaria já apresentando o pedido de licença de instalação ou já aprovando a instalação até Cuiabá”, disse Vuolo.
A previsão é que até 2026 os trilhos da ferrovia estadual cheguem à capital do estado, já com a entrega do terminal no Trevo de Santo Antônio do Leverger.
O secretário afirmou que, além de aproximar a produção do estado com a capital, a ferrovia trará desenvolvimento e melhorias à cidade.
“O próprio terminal que está prospectado para Cuiabá, além de produção, além de indústria para transformarmos a produção e verticalizar a produção dentro do estado, nós temos um potencial muito grande de consumo e por isso a importância da ferrovia vir pra cá. O que vai viabilizar a atração de novas indústrias, novas plantas, novos empreendimentos que vão gerar emprego e que irão fomentar toda essa região”.
O professor Luis Otávio Bau Macedo explicou que, com o frete de vinda, Cuiabá pode se beneficiar com o transporte de combustível ou com essa possível industrialização da produção do estado.
“Pode atender, por exemplo, o próprio mercado interno com produção industrial aqui de Mato Grosso, pra destinar para o sudeste, por exemplo, via ferroviária com o frete de retorno. Ele vem com os insumos, daí volta com grão, mas também poderia voltar com outros produtos em contêiner. É uma possibilidade, porque são coisas que hoje em dia vem tudo via transporte rodoviário”.
Reportagem: Site/GazetaDigital
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