A empresa MedTrauma, que presta serviços especializados em ortopedia e traumatologia em hospitais da capital e do interior, anunciou, nesta quinta-feira (22), que vai deixar completamente a Saúde de Cuiabá, nessa sexta-feira (23). A empresa é investigada por suspeita de fraudes em procedimentos ortopédicos em Mato Grosso e outros dois estados.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que a substituição da MedTrauma por outra empresa especializada será feita ainda na sexta-feira (23), e que a população não será afetada, pois serão mantidos os procedimentos cirúrgicos ortopédicos no Hospital Municipal de Cuiabá (HMC).
Em nota, a empresa disse que a decisão é motivada pela “não confiança das autoridades municipais” com a empresa, e que está passando por uma auditoria – não apenas financeira, que pode incluir também todos os procedimentos médicos e clínicos – e, por isso, seria conflituoso continuar a atuação no município.
Na terça-feira (20), a MedTrauma anunciou a suspensão de consultas e cirurgias agendadas no Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), depois que a prefeitura rompeu, parcialmente, o contrato com a empresa, após suspeita de fraudes. No entanto, um dia depois, a empresa informou que retomou os serviços.
Somente na terça-feira, estavam previstas 72 consultas consideradas não urgentes e 12 cirurgias.
Conforme a MedTrauma, a suspensão aconteceu após rompimento da prefeitura, mas, de acordo com o município, a suspensão seria apenas do fornecimento de Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPMEs).
Cirurgias sem necessidade, superfaturamento: veja fraudes em procedimentos ortopédicos em hospitais públicos
Uma investigação do Fantástico contra a empresa encontrou documentos que comprovavam superfaturamentos e cirurgias desnecessárias. Há também pacientes que até hoje, não receberam informações sobre as próteses implantadas neles.
Autoridades apuram práticas de irregularidades pela MedTrauma foram exportados do Acre para o Mato Grosso e Roraima, que aderiram a ata de preços da empresa.
No dia 2 de fevereiro a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nas sedes da MedTrauma e empresas do seu grupo. Em Roraima, a PF fez buscas até na casa Secretaria de Saúde, Cecília Lorenzon. Ela chegou a ser afastada do cargo pela justiça, mas esta semana a decisão foi revertida.
Em Mato Grosso, a empresa tinha contrato com o Estado e a Prefeitura de Cuiabá. Os contratos assinados pela MedTrauma foram baseados em documento chamado Ata de Registro de Preços.
No ano de 2021, o caminhoneiro Eduardo Goivinho, de 51 anos, precisava de uma cirurgia no quadril, e a Justiça do Mato Grosso determinou que o Estado fornecesse uma prótese de cerâmica. Contudo, após a cirurgia, Eduardo descobriu que a prótese implantada não correspondia àquela determinada pela juíza.
Eduardo questionou o hospital e recebeu uma nota fiscal de uma empresa chamada Prótesis Distribuidora de Implantes Cirúrgicos Ltda. A nota não tinha marca, modelo, validade ou registro da prótese na Anvisa, informações que são obrigatórias por lei.
Os materiais ortopédicos usados na cirurgia de Eduardo custaram mais de R$ 17 mil, todos fornecidos pela empresa Protesis. Esta empresa faz parte de um grupo com outras 9 empresas, incluindo a MedTrauma Serviços Médicos Especializados Ltda, sediada em Cuiabá. A MedTrauma possui contratos tanto com a prefeitura da cidade quanto com o governo de Mato Grosso para administrar toda a área ortopédica dos hospitais públicos do estado, tanto da capital quanto do interior.
“Até agora eu não sei que prótese colocaram em mim, que a do juiz, eu tenho certeza que não foi”, disse o caminheiro na reportagem.
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