Investigação apontou que o esquema usava a revenda de veículos como fachada para esconder a origem ilegal de bens ligados a crimes.
O dono, um funcionário e um cliente de uma empresa especializada em revenda de carros usados foram presos durante o cumprimento da Operação Venda Cancelada, por supeita de usar empresas de revenda de veículos para o tráfico de drogas. A ação foi deflagrada nesta quinta-feira (12), pela Delegacia Especializada de Repressão a Entorpecentes (DRE).
De acordo com a Polícia Civil, além das prisões, também foram cumpridos três mandados de buscas nas cidades de Sinop e Cáceres, a 503 e 250 km de Cuiabá, respectivamente. As contas bancárias dos alvos foram bloqueadas durante o cumprimento da operação.
Conforme o resumo da ocorrência, a investigação teve início em junho deste ano, quando 210 tabletes foram apreendidos dentro de uma caminhonete, na MT-010, no Distrito de Nossa Senhora da Guia. Na época, o motorista confessou o crime do transporte da droga à Gerência de Combate ao Crime Organizado, que conduziu a ação.
No inquérito policial, a unidade especializada identificou um esquema de supostos proprietários da caminhonete apreendida em uma organização criminosa envolvendo uma garagem de veículos, no município de Sinop.
O delegado Caio Fernando Albuquerque informou que a investigação chegou ao proprietário da garagem e identificou que as vendas orquestradas da caminhonete flagrada com o entorpecente retornavam a ele. A intenção do esquema era adquirir veículos e colocá-los à disposição do tráfico de drogas.
À polícia, os investigados alegaram que a compra foi feita de forma aleatória, por interesse imediato e com pagamento em dinheiro. Um detalhe da investigação foi o interesse de um morador de Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, pela compra de um veículo em Sinop, a ponto de se hospedar em um hotel na cidade apenas para realizar a negociação, efetuando o pagamento em espécie e sem qualquer recibo ou documento comprobatório, conforme apontou a investigação.
Segundo Caio, foram identificados valores e movimentações incompatíveis com o faturamento declarado pela revenda de veículos, além do uso aparente da conta para transações de recursos de terceiros e a rápida passagem de valores sem justificativas claras. Além disso, a empresa apresentou ganhos divergentes com o contexto lícito, caracterizando-se como uma fachada para atividades criminosas.
Como funcionava o esquema
O esquema funcionava com a utilização de uma revenda de veículos como fachada para ocultar a origem ilícita de bens utilizados em atividades criminosas. No caso investigado, o comprador de uma caminhonete afirmou, em depoimento, que encontrou o veículo à venda em um site e o adquiriu por R$ 130 mil à vista, alegando que o valor era proveniente da venda de gado. Ele também declarou que não assinou contrato de compra e apenas foi ao cartório com um funcionário da garagem para realizar a transferência de propriedade. Um mês depois, disse ter revendido o veículo em Cáceres por R$ 160 mil, novamente em um contrato sem reconhecimento de firma.
No entanto, a polícia disse que documentos obtidos no inquérito revelaram inconsistências nessa versão. O comprador forneceu como endereço o mesmo local onde funciona a garagem e indicou um número de telefone registrado em nome de um dos funcionários da revenda de carros em Sinop. Além disso, foi comprovado que ele nunca teve criação de gado ou propriedade rural, sendo, na verdade, garçom em Cáceres.
As investigações conduzidas pela DRE mostraram que o proprietário da garagem havia adquirido a caminhonete de uma empresa por meio de uma procuração pública, usando o nome de um funcionário da revenda para que o veículo retornasse ao seu controle.
A suposta venda para o comprador e a posterior revenda foram simulações criadas para dar aparência de legalidade ao esquema. Dessa forma, caso o veículo fosse apreendido com drogas ou envolvido em outras atividades ilícitas, tanto o proprietário da garagem quanto os envolvidos na negociação poderiam se desvincular do crime.
Movimentações bancárias
A investigação revelou movimentações financeiras atípicas nas contas bancárias dos três investigados: o dono da garagem de veículos, um funcionário e o suposto comprador da caminhonete.
A garagem, registrada com um capital social de R$ 100 mil e um faturamento médio mensal declarado de R$ 19 mil, apresentou um volume de créditos superior a R$ 5 milhões na conta no período inferior a um ano, o que demonstrou uma diferença com relação aos valores informados oficialmente pelos suspeitos.