O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou clara, ontem, a discordância que tem com o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, sobre o equilíbrio fiscal do governo. Cobrou dos ministros à frente de pastas de infraestrutura que utilizem todos os recursos disponíveis na realização de obras públicas. O gesto pode ser entendido que Haddad está perdendo a queda de braço sobre o deficit zero que pretende atingir em 2024. E que Lula não aceita amarras contra gastos.
Ele admitiu divergir do ministro a respeito da manutenção da meta fiscal e frisou que as falhas deste ano não podem se repetir em 2024. “Sempre disse o seguinte: para quem está na Fazenda, dinheiro bom é dinheiro que está no Tesouro. Mas, para quem está na Presidência, dinheiro bom é dinheiro transformado em obras. É dinheiro transformado em estrada, em escola, em escolas de primeiro, segundo e terceiro grau. É saúde. Ou seja: se o dinheiro estiver circulando, e gerando emprego, é tudo o que um político quer. É tudo o que um presidente deseja”, exigiu.
Segundo Lula, não se pode “deixar dinheiro sobrando nos ministérios”. Recorrendo ao jargão futebolístico, sinalizou que é preciso rever as estratégias e táticas para o ano que vem.
“Toda e qualquer falha que a gente tenha percebido, neste primeiro ano, não poderá se repetir no segundo. É como se fôssemos o técnico de futebol e, vocês, o time. Entramos em campo e vimos como é que os adversários jogam, a tática, a estratégia. Agora, estamos no intervalo e vamos elaborar nossa tática e estratégia para o próximo período”, disse.
O primeiro indicativo de que Lula estava incomodado com a imposição de limites aos gastos públicos, por conta do equilíbrio das contas perseguido pela equipe econômica, foi em 27 de outubro. Em um café da manhã com jornalistas, disse que “tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal, a gente vai fazer. O que posso dizer é que não precisa ser zero, o país não precisa disso. Não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue começar o ano fazendo cortes de bilhões nas obras que são prioritárias para este país”.
Já ali ficou claro o descompasso entre o presidente e Haddad, que em coletiva na segunda-feira evitou responder se mudaria a meta fiscal para o próximo ano. “A minha meta está mantida”, garantiu. Ele tentou amenizar o desencontro com Lula afirmando que “não há da parte do presidente nenhum descompromisso, muito pelo contrário. Se ele não estivesse preocupado com a situação fiscal, não estaria pedindo apoio da área econômica para orientação das lideranças do Congresso”.
A reunião ministerial de ontem foi a primeira de uma série de encontros que o presidente pretende comandar até o final do ano — as próximas serão feitas com os ministros dos serviços e da área social. A ideia é fazer um alinhamento entre as pastas.
Questionados sobre a mudança na meta fiscal, fontes do Palácio do Planalto se recusaram a comentar. Segundo eles, o Ministério da Fazenda será o primeiro a se manifestar, mas apenas quando houver uma definição sobre o assunto. A medida precisa ser incluída na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, que começa a ser debatida no Congresso na próxima terça-feira.
Lula também retoma as viagens internacionais no final do mês — ainda está no período de recuperação da cirurgia no quadril. Embarca dia 28 para os Emirados Árabes Unidos, onde ocorre a COP-28, em Dubai. Vai aproveitar o giro no Oriente Médio para ir ao Catar e a Arábia Saudita. O objetivo é buscar investimentos para projetos para economia sustentável.
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