Com mais de 555 mil casos de dengue desde o início do ano, o surto da doença já é o maior registrado no país, conforme aponta o Ministério da Saúde.
Mesmo sendo considerada uma enfermidade tratável, em todo o Brasil, a dengue já soma 94 mortes confirmadas e outras 381 ainda estão em investigação. Uma preocupação, tanto para a população quanto para as autoridades sanitárias, é a similaridade entre os sintomas da dengue com outras moléstias, como a covid-19.
Entre as principais queixas apresentadas pelos infectados estão febre, fraqueza e dores de cabeça e pelo corpo. Sintomas que confundem a população e, por esse motivo, requerem ainda mais atenção para que seja adotado o tratamento adequado.
No entanto, apesar da semelhança, pequenas diferenças podem ajudar a distinguir as doenças. O quadro febril é um importante alerta. Nos pacientes com dengue, a febre alta pode vir acompanhada por dores atrás dos olhos e pequenas manchas na pele, como destaca a médica infectologista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luciana Costa.
“A covid-19 e a dengue podem apresentar, principalmente após a exposição inicial, alguns sintomas e sinais bem parecidos. É aquilo que é chamado de síndrome gripal, parecida com muitas infecções que a gente tem. Mas tem uma diferença básica na dengue que é o aparecimento do exantema, que são aquelas manchinhas vermelhas na pele, além da dor retro orbital (dor atrás dos olhos)”, aponta a médica.
Por sua vez, entre os pacientes com covid, os problemas respiratórios podem chamar atenção. Entre os sintomas estão tosse seca e, em alguns casos, dificuldade para respirar. Algumas variantes também podem causar perda do olfato e/ou paladar, característica bem peculiar reportada pelos pacientes.
Apesar das diferenças, a infectologista Luciana Costa reconhece que pode haver dificuldade no diagnóstico médico, que deverá ser confirmado por meio de testes como sorologia, ou RT-PCR.
Uma preocupação expressa por especialistas é que, em função da situação epidêmica da dengue, casos de covid-19 possam ser confundidos não sendo tratados de forma adequada já no primeiro momento. “É um fator de preocupação e precisamos garantir que todos estejam alertas na situação atual, isolando as pessoas com sintomas respiratórios para quebrar as cadeias de transmissão. Muitos casos de covid podem passar despercebidos”, aponta o sanitarista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Jonas Brant.
Sobre as rotinas do sistema de saúde para o diagnóstico e o enfrentamento das duas doenças, o professor identifica algumas dificuldades. “De maneira geral, temos uma dificuldade na incorporação de rotinas no sistema de saúde. Hoje, por exemplo, se você entrar no site da secretaria de saúde do DF e buscar dados da vigilância em doenças respiratórias, o último boletim epidemiológico publicado é o de outubro”, aponta Brant, indicando que a falta de informação pode comprometer a tomada de decisão dos agentes públicos.
Outro sinal de alerta para gestores da saúde é a volta de dois sorotipos do vírus que estavam fora de circulação há muitos anos. “Sorotipos da doença que não circulavam há muito tempo fazem com que a população fique mais vulnerável a essas variantes. Isso também amplia o risco de casos graves”, aponta o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass),Fábio Baccheretti.
“Ainda não chegamos ao pico dos casos, mas nós já ultrapassamos o pior pico da nossa história. Será, historicamente, o pior ano em casos de dengue. Mas, apesar disso, estamos conseguindo manter uma letalidade baixa na comparação com outros anos epidêmicos”, destaca Baccheretti.
Para o secretário, o maior objetivo é reduzir as mortes pela doença. “Hoje, nosso maior problema é a dengue. A dengue é considerada uma doença de óbito evitável, é nisso que a gente vem trabalhando. A letalidade hoje está baixa em relação ao número de doentes”, explica.
A redução de danos, provendo tratamento para evitar os óbitos, é a aposta do Ministério da Saúde. A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente Ethel Maciel explica que todas as medidas de controle do mosquito são fundamentais, mas defende a vacinação como fundamental. Ela explica que, além da atuação do Estado, a população tem um papel fundamental no combate ao mosquito.
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