O Brasil alcançou, ontem, a marca de um milhão de registros de dengue. Segundo o Painel de Arboviroses, do Ministério da Saúde, o número de casos prováveis chegou a 1.017.278 milhão. O número é equivalente a quase 17 mil novos casos por dia em 2024. A pasta reconhece que pode haver subnotificações.
De acordo com o ministério, as mortes por dengue confirmadas são 214, mas outras 687 estão sob investigação. Em relação ao coeficiente de incidência da doença, está em 501 para cada 100 mil habitantes.
Em um recorte regional, na semana epidemiológica 8, a mais recente, a Região Sudeste concentrou o maior número de casos prováveis — foram 67.061 notificações. O Sul vem a seguir, com 24.241 registros, com o Centro-Oeste em terceiro lugar — 14.630 casos. O Nordeste e o Norte ficam por último, acumulando, respectivamente, 7.970 e 2.039 casos cada.
Os estados do Acre, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, além do Distrito Federal, decretaram estado de emergência pela arbovirose. No ranking de incidência de casos, o DF está na frente, com 3.612 notificações a cada 100 mil habitantes. Minas vem em segundo (1.714) e Espírito Santo (988) em terceiro.
Na análise da epidemiologista e coordenadora do Núcleo de Pesquisa Biomédica da Universidade Federal de Lavras (MG) Joziana Barçante, os números alarmantes dos casos de dengue são resultado de bruscas mudanças climáticas e pela infecção de pessoas que jamais tiveram contato com a doença.
“Quando tenho um sorotipo predominante na região — por exemplo, o 1 — e chegam novos indivíduos com o sorotipo 2, todos aqueles que tiveram contato com o 1 estão suscetíveis aos tipos 2, 3 e 4. Cada vez que um sorotipo aumenta sua circulação e ganha novas áreas, a gente tem um potencial aumento do número de casos”, explica.
Joziana salienta que melhorar a qualidade da vigilância genômica é fundamental para se definir a melhor estratégia de combate à doença em uma determinada região. “É importante que se invista na vigilância genômica e na identificação dos sorotipos, pois é pelo mapeamento que se traça a melhor estratégia de atuação. Quando se sabe que um novo sorotipo começa a circular em um local, espera-se que ali aumente o número de casos. Assim, é possível ter medidas que sejam postas para melhorar a situação epidemiológica”, observa.
A epidemiologista acredita que os números da dengue podem ser ainda maiores em função de pessoas que contraíram o vírus, mas estão assintomáticas — e que, por causa disso, não procuraram as unidades de saúde. “Quando falamos de doenças infecciosas e parasitárias, falamos em torno de 20% a 30% de infectados que são assintomáticos”, alerta, acrescentando que as condições climáticas do Brasil favorecem a reprodução do mosquito Aedes aegypti — que além de ser transmissor da dengue, também é vetor da zika e da chikungunya. “É fundamental eliminar os criadouros, pois é a presença do inseto que faz com que os casos aumentem”, frisa.
Por causa da explosão de casos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou que priorizará a análise de pedidos de registro de produtos cosméticos do grupo repelentes de insetos. “Conforme análise de especialistas, o cenário epidemiológico ainda não atingiu seu pico de transmissão e de casos, e a situação, portanto, pode se agravar. Nesse contexto, a agência soma esforços priorizando a entrada de novos produtos no mercado. A priorização será mantida enquanto perdurar o preocupante cenário epidemiológico de transmissão da dengue”, afirma a Anvisa, em nota.
Apesar do esforço da agência de vigilância sanitária, os laboratórios produtores de repelentes temem a falta de matéria-prima para produzi-los. Isso porque os princípios ativos para a fabricação do cosméticos vêm do exterior e as vendas, segundo dados da Linx — especialista em softwares para o varejo —, aumentaram 26,4% nas farmácias em janeiro e fevereiro, em comparação ao mesmo período de 2023.
São três os principais elementos utilizados na fabricação de repelentes: a icaridina, de origem natural e que garante até 10 horas de proteção; o IR 3535, desenvolvido pela indústria química alemã Merck; e a deet (dietiltoluamida), um composto químico que é o mais antigo à disposição do mercado.
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