O ano era 2020, quando Bruna Justiny, de 29 anos, começou a sentir fortes dores no ouvido, dentes e olhos. A dor se assemelhava a uma pontada, um choque e como uma constante e forte dor de dente segundo Bruna. Há mais de três anos a cuiabana vive uma rotina de consultas médicas e aguarda por uma cirurgia para colocar um antepasso entre a artéria e o nervo do trigêmeo e dar fim à “pior dor do mundo”.
“Achei que tinha estourado meus tímpanos e tomei vários remédios, mas nada passava a dor, busquei sete médicos e nenhum conseguiu me diagnosticar, foram várias idas ao hospital, vários exames. Até tratamento alérgico eu fiz, até que um otorrino desconfiou e me mandou buscar um neurologista para que eu recebesse o diagnóstico”, relembra.
Normalmente, a neuralgia do trigêmeo atinge pessoas mais velhas e somente um lado do rosto, no caso de Bruna, o lado direito é afetado. Ela não é constante fora das crises, mas é disparada por alguns gatilhos como falar, mastigar, toque durante a escovação, barbear e até com a brisa do vento sobre o rosto.
Bruna atua como dentista e conta que o primeiro diagnóstico para neuralgia do trigêmeo só ocorreu em outubro de 2022, quase dois anos após o início das dores. Segundo o neurocirurgião Felipe Guardini, apesar de comum e tratável, a doença ainda é pouco conhecida por ser confundida com outras doenças que atingem regiões semelhantes.
“Alguns pacientes caminham por vários especialistas e demora muito tempo até se pensar em uma neuralgia do trigêmeo, que pode ser confundida com uma dor de cabeça, sem falar daqueles pacientes com doenças ortodônticas. Um dos principais diferenciais da doença é a vontade de tirar a própria vida e o médico precisa estar bem estruturado para que ele consiga diferenciar demais doenças”, explica.
A cuiabana lembra momentos difíceis e de desespero em decorrência da dor. A cada três meses, Bruna faz exames gerais e para checar o fígado, órgão mais afetado pelo uso dos remédios. A dor é incapacitante, ou seja, impede que a pessoa consiga fazer atividades simples do dia a dia. Bruna afirmou que ganhou 30kg desde que as dores começaram a surgir.
“Não saio de casa. Faz três anos que não vou a festas, a shows, em nada. Minha vida é a minha casa, meu trabalho e o hospital. Eu tomava os remédios para aliviar a dor, mas também porque sabia que iriam me dar sono e não iria doer tanto dormindo. Batia no meu rosto várias vezes para tentar aliviar a dor e já cheguei a bater a cabeça na parede”, diz.
Bruna contou que ficou sabendo do caso da mineira Carolina Arruda, também diagnosticada com neuralgia do trigêmeo e que passou por uma cirurgia no dia 26 de julho, como parte de um dos tipos de tratamento para a doença. Para a cuiabana, a morte passava pela sua cabeça, mas o nascimento da sobrinha Catarina, de três meses de idade, lhe trouxe esperança de novo.
“Depois do nascimento da minha sobrinha comecei a pensar que precisava viver, buscar o que for de cirurgia e se não der certo vou correr atrás de outra! Eu quero viver pela minha sobrinha, eu quero ver os anos de vida dela”, ressaltou.
Após ser diagnosticada, Bruna iniciou uma das formas de tratamento, com uso de remédios para a dor. Esse processo durou 6 meses e com o alto custo, ela adquiriu um convênio médico para diminuir os gastos.
Ao perceber que as dores não diminuíram com o uso de remédios, Bruna foi novamente ao neurocirurgião que recomendou a cirurgia. Porém, porque o período de carência do convênio é de dois anos para doenças pré-existentes, o procedimento só pode ser realizado a partir de abril de 2025.
A neuralgia do trigêmeo, também conhecida como a “doença do suicídio”, e comparada a choques elétricos e até a facadas. O trigêmeo é um dos maiores nervos do corpo humano. Ele leva esse nome porque se divide em três ramos:
Ele é um nervo sensitivo, ou seja, que controla as sensações que se espalham pelo rosto. Permite, por exemplo, que as pessoas sintam o toque, uma picada e a dor no rosto.
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