“Não queremos sair porque o Líbano é a nossa casa. Sair é a nossa última opção, pois tudo está aqui. Só pensamos em deixar o país se a situação piorar mesmo e os bombardeios chegarem na nossa cidade”. Esse é o relato da cuiabana Hanan Hallak, de 18 anos, que mora no Líbano desde 2019, junto com a mãe e a irmã.
A jovem relatou que as três têm vivido momentos de muita tensão e insegurança em meio à guerra. Hanan explicou que os pais são libaneses, mas que ela e a irmã nasceram em Cuiabá. Atualmente, o pai de Hanan está no Brasil e as três na cidade de Karaoun, que fica no Vale do Bekaa.
Segundo ela, várias cidades desse vilarejo já foram atacadas, mas Karaoun não foi uma delas. A cuiabana acredita que isso não irá acontecer e que, por isso, não pretendem sair do país, apesar da insegurança.
“Escutamos o barulho dos bombardeios e vemos a fumaça. Chegamos até a sentir a pressão das explosões às vezes. É assustador”, disse.
Para a comunicadora e pesquisadora sobre a história da resistência armada na Palestina, Bárbara Rosa, a decisão de Hanan e sua família de permanecer na vila é uma forma que elas encontraram para lutar e resistir aos ataques e à guerra psicológica travada contra a população civil.
Ela explicou que os povos do Levante tem uma conexão muito forte com a terra onde seus antepassados viveram e onde hoje eles tentam dar continuidade à história e cultura de seu povo.
“Escolher abandonar sua terra, ainda que tenham dupla cidadania, como é o caso delas [Hanan e família], não é uma escolha simples. Muitos escolhem permanecer e resistir aos ataques, mesmo que para isso tenham que colocar a vida em perigo”, explicou.
Nesta terça-feira (8), o segundo voo da Força Aérea Brasileira (FAB) com repatriados do Líbano chegou ao território brasileiro. Ao todo, segundo estimativa do Itamaraty, cerca de 3 mil dos 21 mil brasileiros que vivem no Líbano querem retornar ao país e deixar a zona de conflito.
Para isso, a FAB tem utilizado a aeronave KC-30 (com capacidade para 230 pessoas) e também pode passar a utilizar o KC-390 (com capacidade para 90 pessoas).
São os mesmos aviões utilizados nas operações de repatriação no fim do ano passado, para retirar cidadãos de Israel e da Faixa de Gaza.
Entenda o conflito no Oriente Médio e a possibilidade de uma guerra geral
O Líbano tem sido alvo de bombardeios aéreos de Israel, que mira alvos do grupo Hezbollah em território libanês. Os ataques têm atingido também civis, e dois cidadãos brasileiros já morreram desde a intensificação dos ataques a partir do dia 20 de setembro.
Nos últimos meses, Israel e Hezbollah viveram um aumento nas tensões. Um comandante foi morto em um ataque israelense no Líbano, em julho. No mês seguinte, o grupo preparou uma resposta em larga escala contra Israel, que acabou sendo repelida.
Mais recentemente, líderes israelenses emitiram uma série de avisos sobre o aumento de operações contra o Hezbollah. O gatilho para uma virada no conflito veio após os seguintes pontos:
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