O saldo da balança comercial brasileira, até agosto desse ano, já foi maior que o de todo o ano passado e no mês de setembro passou dos US$ 71 bilhões, o equivalente a R$ 361,5 bilhões.
Em 2023, o Brasil atingiu uma marca histórica de exportações.
Estamos vendendo muito mais para outros países do que comprando deles. O resultado dessa conta, que é o saldo da balança comercial brasileira, até agosto de 2023, já foi maior do que todo o ano passado, e no mês de setembro passou dos US$ 71 bilhões, o equivalente a R$ 361,5 bilhões.
O Brasil já viveu outros momentos de aumento expressivo da balança comercial, como em 2010. A diferença é que, na década passada, esse crescimento estava associado a uma variação de preços das commodities, que são os produtos em estado bruto – como o petróleo e a soja. Naquela época, eles estavam mais caros; agora não. O volume de vendas é que está maior. Nós estamos produzindo e vendendo mais.
A agropecuária é o setor que mais puxou esse crescimento. Em 2010, representava 11% de tudo que era vendido. Hoje, um quarto dos produtos que saem do país vem do agro. Já a participação da indústria de transformação caiu de 66,3% para 53,2%.
“Tem um lado que… Um é o aumento da produtividade do setor mesmo, que cresceu muito. Por exemplo, a gente agora é grande grande exportador de milho, o que não era, ultrapassamos até os Estados Unidos. E a guerra da Ucrânia também. A Ucrânia era uma grande ofertante de grãos e a Rússia também, e a gente ocupou muito desses espaços, o que ajudou esse grande aumento de volume”, explica Lia Valls, economista do Ibre/FGV.
Na fazenda do agricultor Rodrigo Pavel, em Dourados, no Mato Grosso do Sul, o crescimento veio acompanhado da tecnologia. Ele investiu em irrigação, máquinas e sementes melhores, e aumentou a produtividade da soja e do milho em quase 40% nos últimos 13 anos.
“A demanda é crescente. Hoje, a proteína animal precisa da soja e do milho para engordar peixe, para engordar porco, frango. Então, ela é crescente”, ressalta.
Boa parte do milho e da soja produzida no Brasil vai para a China, que continua sendo o nosso maior parceiro comercial. Em 2023, os chineses compraram 30% de tudo o que o Brasil vendeu. Os Estados Unidos ocupam o segundo lugar, depois vem a Argentina.
A China também compra muito petróleo, o produto da indústria de extração mais comercializado do Brasil. O crescimento da exportação do petróleo leva junto também os derivados. A maior fábrica de óleo lubrificante da América Latina vende para oito países e, só no primeiro semestre de 2023, registrou um crescimento de mais de 10% nas exportações.
“A gente vem crescendo 17% ao ano nos últimos cinco anos. E o que a gente vê nesse pós-pandemia é uma aceleração muito grande nos mercados que a gente opera. Estamos investindo mais de R$ 100 milhões na fábrica para ampliar a capacidade. Então, é muito espaço de crescimento ainda inexplorado; a gente está investindo bastante nisso pra buscar esse mercado”, afirma Saulo Brazil, diretor de lubrificantes Vibra.
Mas os economistas alertam: é preciso fortalecer a indústria para diversificar os produtos de exportação. Hoje, quase metade do que vendemos para fora do país é de produtos primários, em estado bruto.
“Esse é o grande desafio do Brasil. A gente não vai conseguir aumentar salários e gerar volume de emprego de qualidade sem conquistar espaços nesse mercado de indústrias de média e alta tecnologia. A gente tem algumas exceções, gloriosas exceções, mas precisamos de um volume muito, muito maior de empresas que consigam exportar, conquistar o mercado mundial e ampliar a produção de produtos industriais de alto conteúdo tecnológico”, defende Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.