A Câmara Setorial Temática (CST) da Apicultura Profissional e Recreativa da Assembleia Legislativa de Mato Grosso realizou audiência pública, na manhã desta segunda-feira (25), no Sindicato Rural de Poconé, para debater a apicultura e meliponicultura (criação de abelha sem ferrão) na região metropolitana do Vale do Rio Cuiabá e entorno.
A audiência foi requerida pelo deputado estadual Wilson Santos (PSD) e conduzida pelo presidente da CST, José Lacerda Filho, e pelo relator, Rubens de Pinho Filho.
Entre os principais problemas apontados por produtores e representantes de associações e de cooperativas presentes na audiência estão a dificuldade para obtenção de licenciamento ambiental, linhas de crédito e apoio técnico, bem como de selo de inspeção e de certificação adequada para regularizar a produção. A falta desses documentos impede que seus produtores possam ser comercializados de maneira formal, em supermercados, farmácias e padarias.
O presidente da Federação de Apicultores de Mato Grosso e da Associação dos Apicultores Produtores de Mel de Mato Grosso (Apimat), Júlio Belinke, destacou a necessidade de regularizar a Casa do Mel de Poconé. A ausência de regularização, segundo ele, é um dos principais fatores que impedem o aumento da produção dos apicultores.
“Em Poconé temos uma Casa do Mel, que está em vias de adaptação. Precisa de alguns equipamentos e de uma pequena reforma para ser aprovada na inspeção. Então, neste momento não podemos sair com esse mel para atender à demanda estadual e nacional, mesmo sendo um mel de altíssima qualidade, de alto valor agregado. O valor do mel praticado hoje em Poconé gira em torno de 25% do valor real do mel certificado do Pantanal”, disse.
Segundo Belinke, Mato Grosso produz hoje cerca de 400 toneladas de mel e o consumo no estado é de cerca de 800 toneladas por ano.
“Mato Grosso não está dando conta de atender nem o potencial real do estado, imagina atender o Brasil e exportar. Muitos estados estão saturados de mel, mas Mato Grosso não está conseguindo, sequer, atender a sua população. E o papel do poder público é a promover a organização desse segmento. Temos potencial inclusive para exportação, mas, por entraves burocráticos, isso não acontece”, salientou
Além da produção de mel, os apicultores podem atuar na produção de própolis e geleia real e as abelhas também podem ser utilizadas para polinização e atividades de educação ambiental nas escolas, por exemplo (no caso das abelhas sem ferrão).
Adauto Guimarães Pimenta, presidente da Associação de Apicultores Produtores de Mel Orgânico do Pantanal (Apiopan), afirmou que quase a totalidade do mel comercializado em supermercados de Mato Grosso são trazidos de fora. Segundo ele, dados da Secretaria de Estado Agricultura Familiar (Seaf-MT) apontam que a produção apícola de Mato Grosso não chega a 1% do potencial do estado.
“Tem orçamento, mas a questão envolve a aplicação desse orçamento, a aquisição de equipamentos e financiamento para o produtor, que também é bastante difícil”, avaliou.
O presidente do Conselho de Medicina Veterinária e coordenador do Programa de Sanidade Apícola do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), Aruaque Lotufo, explicou que todos os produtores rurais devem efetuar cadastro junto ao Indea.
“Para fazermos políticas públicas ou desenvolver programas de controle de sanidade eu preciso saber quem são, quantos são e aonde estão. É necessário sair de uma atividade informal para uma atividade regular, cadastrada no Indea, para que haja esse controle”, reforçou.
Lotufo explicou ainda que há vários tipos de selos de inspeção (municipal, estadual e federal), bem como de certificações, que podem ser adquiridas pelos produtores. “Cada um tem seus critérios para emissão”, ponderou.
O presidente da Câmara Setorial, José Lacerda Filho, ressaltou a relevância econômica e ambiental da apicultura e ressaltou que todos os entraves identificados durante as reuniões promovidas pela CST serão apresentados no relatório final que será entregue ao final dos trabalhos.
“Vamos concluir em breve o nosso relatório para mostrar para Mato Grosso e para o Brasil o que falta para que a produção de abelha seja uma atividade tão relevante quanto a soja, o algodão, o milho, o arroz e o feijão. A apicultura é extremamente relevante para o equilíbrio orgânico e ambiental da terra e para a vida humana”, frisou.
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