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Analistas preveem desaceleração da economia brasileira em 2024

Depois de um ano em que a atividade deve registrar avanço ao redor de 3%, superando as previsões, analistas apostam em ritmo mais moderado em 2024. Baixo crescimento global e incertezas fiscais estão entre os principais desafios

Após as previsões serem constantemente revisadas para cima ao longo do ano, devido ao grande número de surpresas favoráveis na atividade econômica, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá encerrar 2023 com avanço de 3%, bem acima das estimativas iniciais de analistas do mercado, em torno de 1%. Contudo, o consenso entre especialistas é de que a atividade está em processo de desaceleração e que o indicador de riquezas produzidas pelo país crescerá menos em 2024.

As projeções de analistas ouvidos pelo Correio para o avanço do PIB em 2024 variam entre 1,3% e 2%. Vale lembrar que, apesar de o Brasil crescer, neste ano, em linha com a média global, em 2024, pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) a taxa de crescimento do país, estimada em 1,5%, deve ficar abaixo da média mundial e dos países da região.

De acordo com especialistas, os estímulos fiscais do governo, que injetou cerca de R$ 200 bilhões na economia por meio de aumentos de gastos com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, ampliando, por exemplo, o Bolsa Família dos R$ 35 bilhões, em 2019, para cerca de R$ 150 bilhões neste ano, explicam boa parte dos erros dos economistas nas previsões. Além disso, a safra agrícola recorde também contribuiu para a expansão de 1% nos dois primeiros trimestres do ano.

Em 2024, porém, as restrições fiscais serão maiores, e a agricultura, após avançar dois dígitos neste ano, não deverá ajudar tanto. Analistas também destacam que, apesar de o desempenho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter surpreendido positivamente, à frente da equipe econômica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e parlamentares continuam sinalizando e aprovando mais gastos sem apontar receitas recorrentes. Logo, mesmo com Haddad demonstrando otimismo com as vitórias colecionadas no Congresso Nacional — com a aprovação da agenda econômica, incluindo a reforma tributária sobre o consumo —, a questão fiscal será o maior desafio para o governo no próximo ano.

ECO-PIB 3(foto: Valdo Virgo)

Agronegócio

Além disso, especialistas alertam para o fato de que muitos integrantes do partido do chefe do Executivo ainda acreditam na tese controversa de que mais endividamento ajuda o crescimento econômico — o que é um risco para a estabilidade econômica e para a próprio processo de crescimento. Economistas ressaltam que o PIB do terceiro trimestre de 2023 não foi negativo devido a ajustes feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e que a variação de apenas 0,1% na margem (em relação ao trimestre anterior) não é motivo de comemoração.

Outra certeza entre os analistas é de que o PIB do quarto trimestre de 2023 será negativo, confirmando a tendência de desaceleração em curso. “Em 2024, o PIB deverá começar o ano em queda, porque o clima não tem ajudado o plantio da próxima safra e, portanto, a atividade vai ser mais fraca”, destaca a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre). Ela prevê avanço de 2,9% no PIB deste ano e, para 2024, a estimativa dela é uma das mais conservadoras, de 1,4%.

“O agronegócio foi bom para o país neste ano, mas a próxima safra não vai ter o mesmo desempenho, e o carrego estatístico para o PIB de 2024 será de apenas 0,3%. A atividade poderá até acelerar um pouco na margem, mas a expectativa de crescimento global é mais baixa e os estímulos fiscais deste ano não devem se repetir. E, se a regra do novo arcabouço fiscal funcionar para valer, o ápice da expansão fiscal terá ocorrido neste ano — com exceção de 2020, por conta da pandemia”, alerta.

Marco Caruso, economista-chefe do PicPay, lembra que, neste ano, o lado externo também ajudou o PIB de 2023, especialmente com as exportações, que vão possibilitar que a balança comercial registre superavit recorde de US$ 90 bilhões. Mas ele lembra que os investimentos, como os gastos com máquinas e equipamentos, que ajudam o crescimento sustentado de longo prazo, não crescem, o que é preocupante e faz com que até mesmo a construção civil dê sinais de desaceleração.

“O investimento insuficiente está puxando a economia para baixo e, por isso, estamos com previsão menor que a do consenso do mercado em 2024”, alerta Caruso, que prevê avanço de 1,3% do PIB. “Há ventos contrários para a economia no ano que vem, o impulso fiscal deste ano não vai se repetir, e a receita do governo tende a ser mais fraca”, afirma.

Para Caruso, como a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 11,75% ao ano, deverá continuar em patamares acima da taxa neutra — de 4,5% a 5,5%, dependendo das análises —, a política monetária seguirá contracionista, e, portanto, o freio de mão do PIB continuará puxado. “O ano de 2023 foi de fracasso das previsões, mas o que mais explica os erros é a resiliência da atividade. O mercado passou o tempo inteiro achando que o ajuste monetário sincronizado levaria o mundo para baixo, mas não foi o que aconteceu”, afirma.

Emprego

“O ano de 2024 será bem mais desafiador do que 2023. Este ano teve a ajuda da supersafra do agronegócio, mas, no próximo, o cenário base prevê desaceleração”, destaca Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da Ryo Asset. De acordo com ele, é preciso lembrar que a melhora do mercado de trabalho, com a redução do desemprego para patamares em torno de 8%, tem um fator de preocupação, que é o fato de muitas pessoas não estarem mais procurando emprego devido aos auxílios do governo.

“É preciso olhar para a taxa de desemprego com cuidado e fazer o ajuste sazonal, pois, pela metodologia do IBGE, há menos gente procurando emprego. Isso afeta a taxa de desocupação, e ela está mais baixa do que deveria devido à contração da economia provocada pela política monetária restritiva”, alerta. “Existem fatores que ninguém ainda sabe explicar, mas as suspeitas são de que uma boa parcela da população se aposentou depois da pandemia, ou mesmo morreu”, complementa.

O Noroeste

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