Dia Mundial das Áreas Úmidas, celebrado neste domingo, 2, exalta ecossistemas essenciais para o equilíbrio ambiental e socioeconômico do planeta. Acomodando parte do Pantanal – maior planície alagável do mundo -, Mato Grosso é diretamente beneficiado. Além de ajudar na manutenção do regime hídrico, na regulação climática, sustentar diversas espécies da flora, fauna e comunidades locais que dependem da pesca e pecuária, o bioma estimula o turismo com seus cenários de rara beleza natural, como mostra esta 2ª reportagem da série sobre Economia Sustentável produzida pelo jornal A Gazeta.
Com extensão aproximada de 150.355 quilômetros quadrados (km2) que correspondem a 1,8% do território brasileiro, o Pantanal abrange 13 municípios mato-grossenses, classificados como interbiomas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por apresentarem vegetação diversa, inclusive típicas do Cerrado e da Amazônia. Um destes municípios pantaneiros, Barão de Melgaço, detém a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Brasil. Por todo o país há 1.500 RPPNs abrangendo 770 mil hectares. Somente a RPPN Sesc Pantanal abarca 108 mil hectares – dimensão equivalente à cidade do Rio de Janeiro (RJ) -, onde foram catalogadas aproximadamente 258 espécies de plantas e 630 de animais vertebrados, alguns deles ameaçados de extinção, como a onça-pintada, o lobo-guará e o tamanduá-bandeira.
Criada pelo Sesc (Serviço Social do Comércio) para proteger o Pantanal e participar da política nacional de conservação da biodiversidade, a RPPN Sesc Pantanal compõe o Polo Socioambiental Sesc Pantanal, que inclui outras duas áreas naturais – Parque Sesc Baía das Pedras e Parque Sesc Serra Azul -, além do Hotel Sesc Porto Cercado, Sesc Poconé e o Complexo Educacional Sesc Pantanal. A RPPN Sesc Pantanal conta com os cuidados de guarda-parques e auxiliares, em sua maioria pantaneiros. Em 2024, três dos principais passeios turísticos realizados para a RPPN Sesc Pantanal atenderam 13 mil pessoas.
Visitantes recepcionados no Hotel Sesc Porto Cercado – unidade do Polo Socioambiental Sesc Pantanal – têm oportunidade de fazer passeios de barco pelo rio Cuiabá, trilhas na RPPN Sesc Pantanal, contemplação da fauna e do pôr do sol, entre outras atividades.
Criação de Borboletas
Há 20 anos, o Borboletário Sesc Pantanal é outro atrativo no Hotel Sesc Porto Cercado. Além de um espaço de educação ambiental, contribui para a geração de ocupação e renda na região. A parceria entre o Sesc Pantanal e 24 famílias de Poconé, que formam a Associação de Criadores de Borboletas de Poconé (ACBP), dá vida às borboletas e aos sonhos das pessoas. Reformar a casa, custear a faculdade e comprar um veículo são algumas das realizações das famílias participantes, que recebem até um salário-mínimo por mês para cuidar de três das cinco fases do desenvolvimento das borboletas.
Os associados foram capacitados para receber os ovos coletados do Borboletário e cada um tem em casa uma espécie de viveiro, onde os insetos são cuidados. Após a eclosão dos ovos, nascem as lagartas, que são alimentadas até a fase de crisálida, quando são adquiridas pelo Sesc Pantanal. O Borboletário do Sesc Pantanal tem, atualmente, 7 espécies. As mais comuns são a Heraclidistoa, uma borboleta preta e amarela, e a Acia monusti, nas cores branca e bege. Além da ajuda financeira, o Borboletário nos permite cuidar do meio ambiente, conscientizando as pessoas sobre como proteger a natureza. É importante preservar, porque hoje em dia já não tem muitas espécies, diz Maria Laurinda de Carvalho Silva, 56. Nascida em Poconé, ela participa do projeto há 20 anos. Neste período, se formou como técnica em enfermagem e ajudou a filha a cursar faculdade.
“O desenvolvimento econômico está ligado diretamente à conservação da natureza. Sem áreas naturais conservadas os serviços que a natureza nos oferece ficam prejudicados. Isso afeta a saúde humana, os recursos básicos para a agricultura – solo, água, regulação climática – e tantas outras consequências que refletem na nossa produtividade e performance econômica. Portanto, é possível e necessário conciliar diferentes usos dos territórios, de forma que haja prosperidade com sustentabilidade”, argumenta a bióloga e gerente-geral do Sesc Pantanal, Cristina Cuiabália.
Nessa perspectiva, a RPPN Sesc Pantanal contribui para a proteção das espécies, a purificação das águas, o controle de processos erosivos e a regulação do clima, cita Cuiabália. Possibilita os meios de vida das populações locais, por renovar os estoques para a pesca tradicional, por exemplo, além de toda a cadeia econômica que o ecoturismo mobiliza e impulsiona.
“É um arranjo em que os benefícios são muitos e compartilhados, a natureza ganha, as populações locais ganham e os visitantes ganham por ser uma experiência única e transformadora visitar o Pantanal e poder contar com serviços que prezam pela responsabilidade socioambiental”, arremata.
Turismo regenerativo
O Pantanal mato-grossense tem sido um dos destinos mais procurados para o turismo regenerativo, modalidade que ganhou força após o agravamento de eventos climáticos, como secas extremas, além de incêndios de grandes proporções que destruíram parte do bioma em 2020 e se repetiram nos anos subsequentes, com maior severidade em 2024.
“Naquela dimensão, ninguém nunca tinha visto, nem antes de nós. Foi um choque. Fiquei muito afetado. Mas, a principal consequência é que o Pantanal está menos alagado. Os riachos vão secando, assoreando e perdendo navegabilidade. Isso afeta o turismo. As mudanças climáticas e outras oriundas das ações humanas, como hidrelétricas e mineração, impactam a atividade turística e exigem adaptações”, pondera o empresário do ecoturismo no Pantanal, André Thuronyi.
“Desenvolvi esse olhar de como a natureza viva pode gerar recursos através da visitação. O ecoturismo anda de mãos dadas com a comunidade local, com a apresentação da cultura da região, contratação de serviços, implementação de melhorias, entre outros”, diz.
Com o propósito de restaurar e regenerar ecossistemas, culturas e comunidades locais, o turismo regenerativo vem conquistando adeptos no mundo todo. Por conectar viajantes com um propósito maior, promove experiências transformadoras e fortalece a consciência sobre o uso responsável dos recursos naturais. “Muitos turistas atualmente viajam na intenção de cuidar dos atrativos naturais, que com o tempo vão perdendo suas características originais”, acrescenta a turismóloga e guia de turismo Bianca Cris Santos da Silva Rondon.
“O turismo fortalece, visibiliza e valoriza a cultura local, principalmente as pessoas que cuidam e protegem o Pantanal. Além da renda que propicia, desperta nas pessoas o sentimento de pertencimento a esse lugar”, conclui.