Em uma caravana com cerca de cem pessoas, ambientalistas, representantes de entidades, comitês populares e o deputado estadual Lúdio Cabral (PT) passaram na semana passada pelos municípios banhados pelo rio Paraguai, em Mato Grosso. Foi realizada audiência pública na Câmara Municipal de Alto Paraguai, além de cerimônias à beira do rio em seis municípios e um ato próximo às nascentes, também em Alto Paraguai.
O grupo iniciou a rota por Cáceres. Na Praia do Daveron, o grupo realizou um ato denominado “Água é vida”, com discursos, música e orações sobre o meio ambiente e o rio Paraguai. Membros dos comitês populares de defesa dos rios da região coletaram água do rio em potes de cerâmica, como simbolismo da água que conecta toda a população que vive às margens do principal rio que forma o Pantanal.
“A natureza não tem voz, não faz lobby, ela grita com as mensagens que ela tem passado para o planeta nos últimos anos, que são as mensagens da crise climática. A perspectiva dos direitos da natureza precisa ser incorporada à legislação e às políticas públicas. Defender os direitos da natureza significa a possibilidade de a gente continuar existindo, produzindo, se alimentando, gerando e distribuindo riqueza na nossa sociedade”, apontou o deputado durante audiência pública realizada em Alto Paraguai, o ponto final da caravana.
Os atos à beira do rio Paraguai também foram realizados em Porto Estrela, Barra do Bugres, Arenápolis e Nortelândia, além das nascentes em Alto Paraguai. Os comitês populares de defesa do rio Santana, do rio Flechas e do rio Jauquara integraram a comitiva mobilizada pelo parlamentar. Esses rios são afluentes do Paraguai.
Representante dos comitês populares de defesa do Pantanal, o ativista e organizador da caravana, Isidoro Salomão, destacou o jubileu de 25 anos em que são realizados os atos em defesa do rio Paraguai. Salomão pontuou a necessidade de defender as águas do bioma frente à emergência climática.
“A água tem que saciar a sede e a fome do povo. Nós estamos em uma crise de água no Pantanal e, por incrível que pareça, está faltando água para beber para a natureza inteira: bichos, floresta e ser humano. O que marca este comitê é a luta pela água, então o pote que nós utilizamos simboliza essa água que nós estamos cuidando para matar a sede do povo e da natureza pantaneira”, defendeu.
Membro do Instituto Gaia, o geógrafo Clovis Vailant destacou a importância do rio Paraguai e do Pantanal para a formação de água doce não só no Brasil, mas também outros países da América do Sul. O rio percorre mais de 4 mil km, saindo de Alto Paraguai e Diamantino, e passa por Mato Grosso do Sul, também pela Bolívia, pelo Paraguai e pela Argentina, onde desagua no rio Paraná, depois recebe o Rio Uruguai e se torna o Rio da Prata, antes de chegar ao Oceano Atlântico.
“E as áreas úmidas são fundamentais como grandes filtros de água doce. Não só é uma área produtora de água doce, mas também uma área purificadora de água doce. É o centro de produção de água doce do vale central da América do Sul, então tem uma importância muito grande para nós que estamos nessas comunidades e cidades por onde passa o rio Paraguai, um rio que atende mais de 15 milhões de pessoas nesse percurso com água doce, biodiversidade muito rica, de ictiofauna com os peixes, e também faz parte da cultura. Então, tem importância como fonte de vida, da cultura desse povo e da construção histórica de corredores bioculturais”, disse Vailant.
Lindalva Domingas da Silva, representante do Comitê Popular do Rio Jauquara e moradora da comunidade Vão Grande, por onde passa um dos formadores do rio Paraguai, destacou a relação das comunidades com as águas do Pantanal.
“A importância é muito grande, não tem nem como falar direito o quanto aquele rio faz diferença na nossa vida. Porque aquilo ali é vida, de todas as coisas, de bichos, de animais, das pessoas, dos seres humanos, é o coração daquela comunidade. E mudou muito, o rio não baixava muito, e agora está muito baixo, tem lugar que está quase cortando assim… ficou muito fraco de água. E essa água que tem nós queremos conservar, não deixar bagunçar, jogar lixo, fazer barragem, porque a água fugiu bastante, com desmatamento, com dano que o ser humano faz no rio. É muito difícil a gente ficar sem aquele rio. Temos que alertar porque está muito sofrido o rio”, argumentou.