A maior parte dos incêndios em Mato Grosso está associada à prática agropecuária. É o que diz um estudo do Instituto Centro de Vida (ICV), que mostra que 60% das áreas atingidas pelo fogo se localizam em imóveis rurais privados ou áreas não cadastradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
Segundo Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV, a prática de atear fogo em propriedades rurais é bastante comum, principalmente, para “limpar” áreas recém desmatadas.
“O fogo é utilizado especialmente no processo de limpeza de uma área recentemente desmatada, ou seja, após o desmatamento, ficam restos de galhos, troncos, folhas, e o fogo é usado para queimar esses resíduos e deixar a terra mais apta para o plantio”.
Outra utilização do fogo, explica Silgueiro, acontece para enfraquecer vegetações nativas e facilitar o desmatamento, uma vez que a área fica mais fragilizada.
“O fogo diretamente na floresta faz com que ela fique mais aberta, facilitando, depois, a remoção das árvores e dos resíduos que ficarem. Então, ela fica mais frágil para depois um processo de abertura acontecer”, disse.
Ainda de acordo com Silgueiro, a situação atual das queimadas no estado é o agravamento de uma prática que ocorre em todos os anos. A seca severa, porém, fez com que o fogo “saísse de controle” e se espalhase para outros territórios.
“Muito desse fogo, nessa época do ano, foi ateado para queimar uma área, seja de vegetação nativa ou uma área recentemente desmatada, e que, em virtude do cenário extremo de seca e déficit hídrico que vivenciamos, esse fogo foge de controle”, explicou.
Apenas nos primeiros 15 dias de setembro, cerca de 1 milhão de hectares foram queimados em solo mato-grossense. Ao todo, no ano, foram mais de 5 milhões de hectares incendiados no estado.
No dia 12 de setembro, na ocasião do G20 Agro, realizado em Chapada dos Guimarães, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, chegou a afirmar que “seguramente, nenhum produtor rural coloca fogo na sua terra”.
Depois, no dia 16, Mendes rebateu a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que apresentou dados que mostravam que 90% dos incêndios no Brasil ocorreram em propriedades privadas. Mendes retrucou: “O que ela está dizendo não vale em Mato Grosso, até porque é uma burrice muito grande alguém achar que um produtor rural vai meter fogo na sua propriedade. Essa história é uma lenda que se inventou e não existe aqui”.
Dados do ICV mostram que as queimadas acontecem em áreas privadas e produtivas, ao contrário do que argumenta o chefe do Executivo.