Estado teve mais de 1,6 milhão de hectares atingidos e devastados pelo fogo em agosto deste ano, entre eles, os territórios das 86 terras indígenas do estado.
Povos indígenas de Mato Grosso estão sofrendo com os incêndios florestais que atingem o estado desde o começo de agosto. Até o momento, cerca de 41 terras indígenas foram afetadas pelas chamas, segundo a Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt). As consequências desta devastação incluem plantações usadas para sustento dos povos indígenas destruídas e mudanças temporárias de moradias.
De acordo com a Fepoimt, o estado possui 46 povos e 86 terras indígenas, organizados em sete regionais, vivendo em todos biomas do estado: Amazônia, Cerrado e Pantanal.
“O triste de tudo isso é assistir os vídeos, os relatos, porque não é só a casa que pega fogo, são as roças, é o rio que tá seco. Triste também é ver alguns bichinhos queimando, em sofrimento”, relatou a presidente da Fepoimt, Eliane Xunakalo.
De janeiro deste ano até agora, Mato Grosso lidera o ranking de queimadas do Brasil, com 37,2 mil focos de incêndios, conforme dados do Programa BDQueimadas, do Inpe. Somente em agosto, o estado teve mais de 1,6 milhão de hectares atingidos e devastados pelo fogo, segundo uma análise feita pelo Instituto Centro de Vida (ICV), com base nas pesquisas da Administração Nacional dos Estados Unidos de Aeronáutica e Espaço (Nasa). Os três biomas estão em chamas.
VIDEO:
Na última sexta-feira (6), o Governo Federal reconheceu situação de emergência em 58 municípios de Mato Grosso.
Terras em chamas
Nas Terras Indígenas Utiariti e Paresina, na região de Campo Novo do Parecis e Tangará da Serra, o fogo já dura 35 dias, e mais de 200 mil hectares foram destruídos pelo fogo. Segundo um dos líderes do povo Paresi, Gilmar Koloizomae, a população precisa de equipamentos para combater as chamas e alimentos para os indígenas brigadistas.
“Temos só uma equipe de brigadistas que a gente acha que é pouco, e também porque eles têm poucos equipamentos. Então, a gente necessita da ajuda dos municípios, do governo do estado, do governo federal”, ressaltou.
- Alimento comprometido
Os incêndios também comprometem a alimentação do indígenas, como é o caso dos moradores da Aldeia Piaruçu, na Terra indígena Capoto Jarina, na região do Parque Indígena do Xingu. Segundo Yaka Metuktire, a plantação de mandioca, principal alimento para os filhos e netos, foi destruída.
“Queimou tudo a minha roça. Queimou outra roça da minha mãe também. Isso é a comida que nós comemos, é a nossa alimentação que queimou, não tem mais nenhuma mandioca”, lamentou.
Megaron Txucarramae, umas das lideranças do Xingu, informou que o alimento do povo é a base da farinha, do biju, e, sem conseguir colher o que foi plantado, há o risco de faltar comida para o próximo ano.
“Estamos preocupados com a nossa alimentação natural. Não temos muito recurso para comprar comida que não é nossa”, pontuou.
Assim também é o caso da Terra indígena Rio Formoso, atingida por um incêndio de grandes proporções no último fim de semana. Ao todo, oito aldeias foram afetadas e a lavoura cultivada pelos moradores foi destruída. Ninguém ficou ferido e as moradias foram salvas.
- Busca por abrigo
Também na região do Xingu, a família de Txuire Metuktire, precisou buscar abrigo em outra aldeia, após o fogo se aproximar de onde vive. O mesmo acontece com outras áreas atingidas.
“Estava sofrendo muito por causa da fumaça, sentindo um falta de ar. Meus filhos, meus netos. [quando] acabar a fumaça, vou retornar para a minha aldeia”, relatou.
Terras indígenas atingidas por focos de queimada em MT
TERRA INDÍGENA |
Perigara |
São Marcos |
Sangradouro/Volta Grande |
Areões |
Parabubure |
Ubawawe |
Marechal Rondon |
Pimental Barbosa |
Tapirapé/Karajá |
Kayabi |
Kawahiva do Rio Pardo |
Piripkura |
Arara do Rio Branco |
Aripuanã |
Bahia dos Guatos |
Sete de Setembro |
Areões Chão Preto |
Erikpatsa |
Tirecatinga |
Parabubure |
Nambikwara |
Vale do Guaporé |
Utiariti |
Merure |
Bahia dos Guató |
Portal do Encantado |
Terra Indígena Sararé |
Umutina |
Urubu Branco |
Capoto/Jarina |
Zoro |
Apiaka do Pontal e Isolados |
Enauwene Nauwe |
Sarare |
Xingu |
Marawatsede |
Menkragnoti |
Wedezer |
Parque do Aripuanã |
Lagoa dos Brincos |
Medidas do governo federal
Durante uma audiência de conciliação no Supremo Tribunal Federal (STF), nessa terça-feira (10), o ministro Flávio Dino chamou as queimadas da Amazônia e do Pantanal de uma “autêntica pandemia de incêndios florestais” e deu cinco dias para ampliação do efetivo nessas regiões.
O objetivo da audiência foi avaliar o cumprimento por parte do governo de uma decisão da Corte que determinou a apresentação de planos de prevenção e combate a incêndios no Pantanal e na Amazônia.
Segundo o ministro, os Três Poderes precisam enfrentar o problema assim como fez durante a Covid-19 e as cheias do Rio Grande do Sul.
Ao fim da audiência desta terça ficou decidido, entre outras coisas, a ampliação do efetivo e do número de aeronaves para combate dos incêndios nas duas regiões.