Práticas inovadoras de uso de biocombustíveis pavimentam o caminho para um futuro mais verde e consciente.
Em um mundo que busca incessantemente por soluções sustentáveis para frear o avanço das mudanças climáticas, o setor de transportes está no meio dessa transição. Em Mato Grosso, inovadoras práticas de uso de biocombustíveis estão pavimentando o caminho para um futuro mais verde e consciente.
A Conferência do Clima da ONU (COP28), realizada em 2023, em Dubai, destacou a urgência de acelerar a transição energética global, e o objetivo é claro: reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa até 2050. Mas, a falta de uma metodologia clara de implementação deixa o setor privado com a responsabilidade de liderar por exemplo.
🚜Uma empresa do agronegócio no estado assumiu a liderança ao substituir o uso de diesel mineral por biodiesel B100 – biocombustível feito de orgânica de origem vegetal ou animal – em parte da frota de máquinas e caminhões. O diretor de operações agrícolas da empresa, José Eduardo Tomás, explicou que o uso de biodiesel 100% orgânico nos veículos representa um compromisso com a redução de emissões de carbono.
“Hoje, o diesel que a gente abastece no posto da cidade é um B14, ele tem 14% de biodiesel. Aqui não, é um 100%. E os cuidados que tenho que ter com esse fluido, com esse combustível, é o mesmo que tenho com esse B14”, ressaltou.
O grupo produz 1,2 milhão de toneladas entre soja, milho e algodão, em 362 mil hectares de área na fazenda localizada em Diamantino, no centro-sul mato-grossense. Lá, todos os equipamentos agrícolas são alimentados com biodiesel B100, derivado exclusivamente da soja.
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A diretora de ESG, Comunicação e Compliance, Juliana Lopes, destacou que a empresa se comprometeu a alcançar emissões líquidas zero até 2050.
“A empresa assumiu um compromisso de ser zero emissões líquidas. Quando a gente olha para as emissões, o diesel faz parte, grande parte dessa emissão. Investir em uso de biodiesel faz muita diferença para a emissão da companhia”, pontuou.
🚛Dos 1,1 mil caminhões que fazem parte da frota do grupo, 101 são movidos 100% com o biodiesel B100. Marcelo Gallão, diretor de desenvolvimento de negócios da empresa fabricante dos caminhões, explicou que três modificações técnicas foram necessárias para operar com biodiesel:
- Alteração dos componentes em todo o sistema de injeção de combustível para elastômeros que aguentem e tolerem a cadeia carbônica do biodiesel;
- Sistema de tratamento de gases sem o tubo escape traseiro – o sistema de tratamento de gases sai com o biodiesel para baixo, com a emissão para baixo;
- Adição de um flag no sensor do software de injeção para que o veículo saiba que foi abastecido com o biodiesel B100.
⛽Marcelo ressaltou que o uso de biocombustíveis resulta em uma redução de até 99% das emissões de CO₂, que de outra forma seriam derivadas de combustíveis fósseis. Isso se alinha com a visão de circularidade de carbono, onde o CO₂ é capturado e reciclado, minimizando a adição de carbono à atmosfera.
“O CO₂ em si, não te mata. O CO₂ é até necessário, a planta, CO₂, mais luz solar na presença de água, tem a fotossíntese, que é a maneira como ela (a planta – no caso, planta de soja) se alimenta e cresce, então ela sequestra o CO₂ da atmosfera e faz parte do corpo dela. A empresa utilizou dessa circularidade. O CO₂ que está aqui na atmosfera é utilizada para gerar o combustível e depois ser queimado em combustão. Portanto, a origem do carbono do CO₂, permanece aqui, mas você não tem adição na atmosera”, pontuou.
O consultor de mercado da empresa Datagro, João Otávio Figueiredo, afirmou que, atualmente, o país tem uma matriz energética baseada em energia renovável, tanto para a energia elétrica quanto para a energia de transporte.
“Acho que o combustível é um fator muito importante na transição energética. Não é uma vontade só do Brasil, mas uma vontade do mundo. Todo mundo está buscando a inclusão de baixo carbono para controlar o crescimento global. O Brasil é um exemplo nisso”, destacou.
A transição energética em MT
A expansão do uso de biocombustíveis
São vários os setores que, mesmo sem uma meta estipulada, passaram a trabalhar a transição energética. Existem projetos e ideias sendo colocadas em prática. O projeto Produzir, Conservar e Incluir (PCI), por exemplo, foi lançado em 2015 durante a Convenção do Clima em Paris (COP21). O objetivo é captar recursos para o estado e investir em questões ambientais. Entre as metas, está o aumento da produção de biocombustíveis para 13 milhões de m³ até 2030.
✈O setor da aviação pode contribuir para o aumento da demanda e, consequentemente, a produção dos combustíveis limpos, como o etanol, fabricado através da cana-de-açúcar ou do milho.
“A partir de 2027 vários países vão ser obrigados a usar, um deles é o Brasil. Começa com um valor muito pequeno, 1% da mistura, mas depois vai crescendo 1% por ano e aí acelera, a partir de 2035 eu imagino que isso acelera”, projeta o presidente da Airbus no Brasil, Gilberto Peralta.
Ainda conforme Peralta, o agronegócio brasileiro é peça chave para tirar as metas do papel.
“A única maneira de fazer a descarbonização da indústria é ter um combustível que tire carbono do ar, então quando tem a produção de cana, de milho, o que quer que seja, fazendo o fotossíntese, está tirando o carbono do ar, depois joga de volta no ar como combustível queimado no motor do avião. É diferente do que acontece hoje, que você tira da terra e joga no ar. A mudança vai fazer com que tire do ar e devolva para o ar, por isso, chama-se de combustão, carbono líquido zero”, disse.
Comparação internacional e perspectiva ambiental
No contexto global, países como Suécia e Noruega estão avançando rapidamente na integração de biocombustíveis e outras formas de energia renovável em seus sistemas de transporte. O Brasil, especialmente Mato Grosso, com sua vasta produção agrícola, tem o potencial de liderar o mercado de biocombustíveis. Dados do International Energy Agency (IEA) indicam que o uso de biocombustíveis pode reduzir as emissões de CO₂ em até 65% em comparação com combustíveis fósseis.
A adição de biodiesel ao diesel convencional e a redução da emissão de CO₂:
- Biodiesel B14 (mistura de 14% biodiesel e 86% diesel): emite cerca de 2.280 g/L, aproximadamente 15% menos que o diesel convencional.
- Biodiesel B100 (100% biodiesel): emite 696 g/L, aproximadamente 74% menos que o diesel convencional.
Além da redução de CO₂, o uso de biodiesel também diminui as emissões de monóxido de carbono (CO), material particulado (MP), óxido de enxofre (SOx) e hidrocarbonetos não queimados.
O impacto ambiental positivo é claro: a redução na emissão de gases de efeito estufa, menor dependência de combustíveis fósseis e um incentivo para práticas agrícolas sustentáveis.
😷Especialistas em meio ambiente alertam ainda que as mudanças na atmosfera têm afetado diretamente o corpo humano, deixando a saúde da população cada dia mais em risco, e, por isso, existe uma emergêngia para mudar esse cenário. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que a exposição ao material emitido na atmosfera aumenta a taxa de mortalidade por causas cardiovasculares e respiratórias.
O professor climatologista da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rodrigo Marques, ressaltou que a energia limpa pode contribuir para o clima a longo prazo e, consequentemente, ser um passo para salvar a população de um colapso climático.
“A redução da emissão de gases de efeito estufa contribui para que a temperatura na atmosfera não aumente de forma tão rápida como tem ocorrido nos últimos anos”, alertou.
💹Desafios econômicos e benefícios indiretos
Apesar dos benefícios ambientais, o custo do biodiesel ainda representa um desafio significativo. A produção interna não se traduz em custos mais baixos devido à regulamentação tributária que exige a compra e emissão de notas fiscais de biodiesel.
O diretor de relações institucionais, Ricardo Tomczyk, aponta que o biodiesel pode ser cerca de 10% mais caro do que o diesel convencional.
“No caso da frota agrícola, a gente tem um preço tributado desse combustível. Na outra ponta, temos ganhos nos nossos compromissos de sustentabilidade que nos habilita a acessar mercados, a ter acesso a recursos mais baratos do financiamento, então existe uma balança de compensação, tem que olhar todo o contexto e entender que em algum momento tem benefícios, que são consideráveis também na aplicação de boas práticas”, ressaltou.
🚊Um futuro de transporte sustentável
Mato Grosso está se posicionando na vanguarda dessa transição, demonstrando que a implementação de biocombustíveis é viável e benéfica. No entanto, para que essas práticas sejam sustentáveis a longo prazo, os investidores dessa área ressaltam que é essencial que políticas públicas e incentivos econômicos acompanhem as inovações tecnológicas, assegurando que o transporte do futuro seja não apenas verde, mas também economicamente acessível para toda a população.
Com exemplos práticos e soluções inovadoras, o transporte brasileiro pode servir de modelo para o mundo, mostrando que o progresso econômico e social é inseparável da sustentabilidade ambiental.