Mais de 28 mil focos foram registrados no Brasil, sendo 7,4 mil em Mato Grosso.
Com 1, 2 mil focos de calor em 14 dias, Mato Grosso lidera o ranking de estados com maior índice de queimadas, segundo uma análise do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). De acordo com o Programa de BDQueimadas, desde o início do ano até essa terça-feira (11), mais de 28 mil focos foram registrados no Brasil, sendo 7,4 mil somente em Mato Grosso. Especialistas apontam que o calor fora de época e a ação humana têm potencializado o grande número de queimadas.
Este é o 4° mês consecutivo que o estado lidera o ranking de estados com maior índice de queimadas. Se comparado com o mesmo período do ano passado, quando foram registrados pouco mais de 4,2 mil focos, o aumento foi de 76,19%.
O doutor e professor de climatologia do departamento de geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rodrigo Marques, disse que há a possibilidade de as queimadas atingirem todo o território mato-grossense, dentro de alguns anos, e que o fogo só cessará quando não houver mais vegetação no estado para ser incendiada.
“Acredito que essa ideia de que podemos chegar ao desmatamento zero só acontecerá quando não houver mais o que desmatar, infelizmente. Não há uma boa perspectiva. Acredito que o desmatamento zero vai chegar muito mais rápido do que prevemos, porque na velocidade em que está acontecendo, não haverá mais o que desmatar”, afirmou o professor.
O professor ressaltou ainda que as queimadas podem causar graves impactos na saúde humana. Ele destacou que os efeitos não se limitam a longo prazo, mas também são significativos à períodos curtos e médios.
“Uma população exposta à inalação de fumaça vai ter sérios problemas no sistema respiratório e problemas cardíacos. A curto, médio e longo prazo, as queimadas são um problema muito grande para a saúde pública. Tendo em vista que, quando temos altos índices de queimadas, aumenta o número de atendimentos, sobretudo por problemas respiratórios em crianças e idosos nas unidades de saúde”, explicou.
Rodrigo ressaltou que as enormes perdas de biodiversidade causadas pelas queimadas, afetam tanto a fauna quanto a flora. Ele mencionou o exemplo das queimadas no Pantanal em 2020.
“Existe uma perda muito grande de biodiversidade, tanto de fauna quanto de flora, por conta das queimadas. Haja vista o que aconteceu em 2020, onde tivemos uma grande área do Pantanal sendo devastada por queimadas criminosas. Então, o prejuízo é muito grande”, explicou.
Confira abaixo o ranking com os cinco estados que mais registraram focos de calor, desde o início deste mês:
Ainda conforme o Programa de Queimadas, os quatro municípios que acumularam mais focos de fogo nos 10 primeiros dias de junho no Brasil são do Centro-Oeste:
- Corumbá (MS): 415 focos
- Tangará da Serra (MT): 92 focos
- Feliz Natal (MT): 81 focos
- Poconé (MT): 80 focos
Impacto da ação humana
O pesquisador destacou que a principal causa dos focos de queimadas é a ação humana. Ele explicou que o fogo é amplamente utilizado como método de limpeza de áreas para fins agropecuários e em terrenos urbanos.
“A queimada é o principal método de limpeza de áreas usado para preparar a terra para atividades agropecuárias. Outra questão é que, sobretudo nas cidades, a limpeza de terrenos é feita através de queimadas. Em vez de ter o devido cuidado em aparar a vegetação, as pessoas simplesmente colocam fogo porque é um método mais barato de limpeza de áreas. Infelizmente, isso faz com que Mato Grosso seja recordista nos focos de queimadas no Brasil”, explicou.
🔥Calor fora da época
Segundo o Inpe, a falta de chuva é considerada comum nesta época do ano, na maioria das regiões do Brasil, no entanto, a grande problemática dessa situação é o calor fora da época. O veranico – período de estiagem que ocorre durante épocas de chuva – que surgiu nos últimos dias deve se estender até o dia 20 de junho. Até essa data, a massa de ar seco está com previsão para continuar bloqueando a entrada do ar polar sobre o Brasil, o que manterá as temperaturas acima do normal.
A meteorologista Josélia Pegorim, do Climatempo, disse que as condições climáticas são apenas alguns dos fatores que contribuem para o aumento dos riscos de incêndios em Mato Grosso. Ela destacou que um dos agravantes da situação é a redução das chuvas.
“Primeira coisa que precisa ser entendida é que os focos de fogo aparecem até de forma intencional, em respeito à própria queimada agrícola fora de controle. O mês de maio já foi um mês onde as precipitações ficaram abaixo da média. No mês passado nós já tivemos realmente volumes de chuva abaixo do normal em praticamente todo Mato Grosso. Tivemos algumas pancadas, mas muito poucas. Então, você já vem com uma condição de solo com pouca umidade e com temperaturas altas”, disse.
Fogo no Pantanal
O Pantanal já registrou o maior número de focos de incêndios para um mês de junho de toda a série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), iniciada em 1998. São mais de 730 focos de queimadas somente no bioma.
Imagens de satélite do Instituto Centro de Vida (ICV), que foram divulgadas nesta quarta, mostram duas frentes de fogo na região do Pantanal, em Poconé, a 104 km de Cuiabá, e, também, na divisa com Cáceres, a 225 km de Cuiabá. Em Poconé, o fogo se alastrou por aproximadamente 23 quilômetros de distância.
Na lista dos municípios brasileiros com maior quantidade de focos, foram contabilizados 12 cidades de Mato Grosso com os maiores registros de queimadas. Veja abaixo:
Municípios de MT com mais focos
Município | Quantidade de focos |
Poconé | 162 |
Tangará da Serra | 125 |
Feliz Natal | 104 |
Marcelância | 66 |
Cáceres | 60 |
Juara | 60 |
Querência | 54 |
São Félix do Araguaia | 40 |
Confresa | 37 |
Colniza | 34 |
Santa Carmem | 33 |
Nova Maringá | 31 |