Caso seja paga a indenização, o objetivo, segundo a família, é doar o valor para instituições que previnam esse tipo de crime e ofereçam apoio às vítimas.
O viúvo e a mãe de Cleci Calvi Cardoso, que foi morta em uma chacina junto com as três filhas em Sorriso (MT), no ano passado, entraram com um pedido de indenização contra Estado de Mato Grosso, no valor de R$ 40 milhões, por negligência e omissão durante as investigações do crime. O pedido foi divulgado, nessa quinta-feira (13), pelo advogado criminalista da família, Conrado Pavelski Neto.
A Procuradoria Geral do Estado (PGE) informou que ainda não foi notificada e que, por isso, não conhece as alegações contidas no processo.
De acordo com o advogado da família, o processo é movido por duas ações, sendo uma no valor de R$ 20 milhões, por parte do viúvo, Regivaldo Batista Cardoso, de 46 anos, e outra, também no valor de R$ 20 milhões, por parte da mãe da vítima, Soeli Fava Calci de 75 anos.
“Já faz algum tempo que a possibilidade da ação está sendo avaliada pela família e agora eles [mãe e viúvo] acharam o momento mais apropriado para iniciarem o processo. A família quer que o estado seja penalizado. Quanto ao valor, isso não é de interesse, porque, como, sabemos, ações contra o estado demoram. Talvez, na próxima geração, a família receba o valor, mas a intenção é para que atos como esses [de omissão e negligência] não se repitam”, disse.
Caso seja paga a indenização, o objetivo, segundo a família, é doar o valor para instituições que previnam esse tipo de crime e ofereçam apoio às vítimas.
No processo, Conrado aponta que o autor da chacina, Gilberto Rodrigues dos Anjos, tinha um mandado de prisão em aberto, por latrocínio, desde outubro de 2022, mas estava solto. Ele explicou que, de acordo com documentos da Polícia Civil de Sorriso, Gilberto procurou os filhos e, nesse período, um mapa foi feito indicando a localização dele. Mas, mesmo assim, não foi preso.
“Gilberto tinha um mandado de prisão em aberto, mas não foi preso devido a uma suposta inconsistência no nome da mãe. No entanto, ele forneceu o nome completo corretamente, o que deveria ter permitido a identificação. Qualquer discrepância nos dados deveria ter levantado suspeitas, e ele não deveria ter sido liberado sem que sua verdadeira identidade fosse confirmada”, pontuou.
Conrado disse ainda que o investigado ficou solto por causa de negligência das autoridades, que falharam na verificação do nome no sistema.
Luto na família
Segundo o advogado, mesmo que o crime tenha ocorrido há sete meses, a família continua enfrentando um momento difícil, já que retomar a vida normal tem sido um desafio cada vez maior.
“É um momento muito complicado. A família tenta evitar falar sobre o crime em si, mas é impossível não lembrar, dado o convívio próximo que tinham. A avó fica lembrando das netas e de quando elas ficavam juntas. Cada uma tinha sua função. Uma fazia suco, outra pipoca, outra cuidava da última aula. São memórias felizes que ela tenta manter, mas a tristeza parece atingir ainda mais”, explicou.
Ele ainda comentou sobre a gravidade do crime e de como a família necessita de apoio. “É o crime mais bárbaro que o Brasil já viu. Quatro mulheres da mesma família foram atacadas sem motivo algum enquanto estavam em casa. Isso devastou a família, deixando todos muito fragilizados”, relatou.
Entenda o caso
Cleci Calvi Cardoso, de 46 anos, Miliane Calvi Cardoso, de 19 anos, Manuela Calvi Cardoso, de 13 anos, e Melissa Calvi Cardoso, de 10 anos, foram mortas dentro de casa no Bairro Florais da Mata, eM Sorriso. O crime ocorreu entre a noite de 24 de novembro e a madrugada de 25, mas só foi descoberto pela polícia no dia 27, quando os corpos da mãe e três filhas foram encontrados dentro da casa.
Segundo a Polícia Civil, três das quatro vítimas foram encontradas degoladas e com sinais de abuso sexual. Já a criança teria sido morta por asfixia.
Durante as investigações, a perícia encontrou marcas de chinelo no piso, que estava manchado de sangue, na casa das vítimas. Em seguida, os policiais encontraram o chinelo do suspeito com as mesmas características das marcas no piso, confirmando então se tratar do mesmo calçado que havia marcado o chão da casa.
De acordo com a polícia, o Gilberto entrou no local pela janela do banheiro. Ao ser interrogado pelos agentes, o suspeito ficou nervoso e confessou o crime.
Durante o interrogatório, ele admitiu que invadiu a casa das vítimas na noite de sexta-feira (24), após fazer uso de entorpecentes. Segundo ele, a intenção era de roubar, mas, após ser confrontado pela mãe das meninas, ambos entraram em luta corporal e a mulher foi atacada com uma faca.
Neste momento, a filha mais velha saiu do quarto para socorrer a mãe e também foi atacada. Na sequência, ele confessou que assassinou as outras duas vítimas, ambas menores de idade.
Ainda durante o interrogatório, o investigado contou que saiu da casa pela mesma janela por onde entrou e voltou para a obra, onde retirou as roupas sujas de sangue e guardou em um contêiner.
A polícia localizou as roupas e encaminhou para a perícia. No local também havia uma peça de roupa íntima de uma das vítimas.
O investigado foi preso em flagrante no mesmo dia e teve a prisão mantida. Ele foi levado para a Penitenciária Dr. Osvaldo Florentino Leite Ferreira, em Sinop, a 503 km de Cuiabá. Depois, foi transferido para a Penitenciária Central do estado (PCE), em uma cela individual, sem contato com os demais reeducandos, como determinou a autoridade judicial.
Gilberto foi indiciado pela Polícia Civil pelos crimes de homicídio, estupro e estupro de vulnerável.