O Ministério Público pediu reparação de mais de R$ 1 milhão em danos causados para os familiares da vítima.
O Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) denunciou, nesta quinta-feira (23), dois bombeiros envolvidos na morte de Lucas Veloso, durante um treinamento do Corpo de Bombeiros, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, em fevereiro deste ano. O órgão pede indenização de mais de R$ 1 milhão em danos causados para os familiares da vítima.
Lucas era natural de Goiás e, quando morreu, realizava uma instrução de salvamento dentro d’água. O exame de necropsia apontou que a vítima morreu afogada.
Segundo a denúncia, o capitão Daniel Alves de Moura e Silva comandava a atividade prática de instrução de salvamento aquático e o Soldado Kayk Gomes dos Santos atuava como monitor. A atividade consistia nos alunos correrem por um quilômetro para depois atravessarem a Lagoa Trevisan.
O Corpo de Bombeiros não quis se manifestar sobre a denúncia. A reportagem tenta contato com a defesa de Daniel e Kayk.
Veja a cronologia do afogamento:
- Durante a atividade, o capitão pediu para que os alunos se organizassem em grupos de quatro pessoas, mas pela falta de dois alunos no dia, a equipe se organizou em grupos de seis e Lucas fez parte do último grupo a completar o percurso. A cada dois alunos, um deveria portar o flutuador e a vítima foi uma das escolhidas.
Durante o nado, Lucas teve dificuldades em continuar por exaustão e usou o flutuador para descansar. O capitão então determinou que a vítima soltasse o flutuador e continuasse o nado crawl várias vezes.
“Desconsiderando o estado de exaustão do referido aluno, determinou que a vítima soltasse o flutuador e continuasse o nado crawl, ocasião em que o ofendido tentou, por diversas vezes, dar prosseguimento à atividade aquática, sendo que, diante das dificuldades, voltava a buscar o flutuador”, diz trecho do documento. - Lucas tentou continuar o nado diversas vezes, mas o capitão ameaçava tirar o equipamento de segurança. Momentos depois, pediu para que o soldado retirasse o flutuador da vítima e o mesmo soldado aplicou diversos caldos – expressão popular utilizada para se referir quando a pessoa mergulha contra a vontade, em Lucas.
- O documento ainda diz que Lucas pedia constantemente para sair da água e gritava por socorro. O capitão então desceu do pranchão, equipamento usado para salvamento aquático, em que estava e ordenou que os outros alunos seguissem na frente e deixassem a vítima para trás, sob a sua supervisão. Quando virou, percebeu que Lucas tinha submergido.
- Ao retornar à superfície, Lucas estava inconsciente, teve uma parada cardiorrespiratória e morreu no local.
Relembre o caso
No dia 27 de fevereiro, Lucas morreu enquanto participava de um treinamento para se tornar soldado do Corpo de Bombeiros, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá. Lucas era natural de Goiás e, quando morreu, realizava uma instrução de salvamento dentro d’água. O exame de necropsia apontou que a vítima morreu afogada.
Na época, foi confirmado pelos próprios bombeiros que o jovem foi socorrido pelas pessoas que acompanhavam o treinamento e levado a um hospital particular da capital, no entanto, não resistiu e morreu na unidade de saúde.
Inicialmente, o delegado da Polícia Civil, Nilson Farias, disse que Lucas chegou a passar mal na lagoa. Porém, prints de conversas em grupos de WhatsApp entre alunos do curso sugeriram que Lucas levou um ‘caldo’ – expressão popular utilizada para se referir quando a pessoa mergulha contra a vontade.
Na conversa, alguns dos alunos contam que estavam presentes no momento da morte de Lucas e que viram o que aconteceu.
Em março, o Governo de Mato Grosso assinou um decreto que prevê obrigatoriedade de gravação de treinamentos do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar no estado. A informação foi confirmada pela assessoria do governador Mauro Mendes (União).