Segundo levantamento do Instituto Igarapé, amazônidas são proporcionalmente mais vítimas de assassinatos e de violência sexual do que mulheres de outras regiões do Brasil. Conflitos socioambientais e presença de facções agravam o problema.
A mulheres que vivem na região da Amazônia Legal são, proporcionalmente, mais vítimas de violência sexual e assassinatos do que no restante do país. De cada 10 vítimas, sete são meninas de até 14 anos de idade.
O relatório “A violência contra mulheres na Amazônia Legal nos últimos cinco anos em comparação com o restante do país” foi divulgado nesta segunda-feira (18) e obtido em primeira mão pela GloboNews.
- Em cinco anos (de 2019 a 2023), o homicídio doloso de mulheres teve queda de 2% na Amazônia Legal, ante 12% no restante do Brasil.
- Já a violência não letal (aquelas que não resultam em morte, como física, sexual, psicológica e patrimonial) aumentou 47% na região, contra 12% em outros estados do país.
- A violência patrimonial contra mulheres cresceu em 62% na região. No país, esse aumento foi de 51%.
- A violência psicológica na Amazônia Legal teve um salto de 82%, enquanto no restante do país, foi de 14%.
- Os casos de violência política cresceram 142% nos últimos cinco anos. O estado com mais casos reportados em todo o período é o Amazonas (135 casos), seguido pelo Pará (76).
- A violência física aumentou 37%, ante 3% no restante do país.
👉 Segundo o IBGE, a Amazônia Legal é dividida em duas partes: a Amazônia Ocidental, composta pelos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, e a Amazônia Oriental, composta, por exclusão, pelos estados do Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso.
O relatório fez o cruzamento de dados de sistemas de saúde e segurança de estados e municípios, além de informações de organizações não governamentais, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Projeto ACLED.
Violência sexual é maior na região amazônica brasileira
Além da pesquisa, o Instituto Igarapé lançou nesta segunda-feira a plataforma “Mulheres na Amazônia: Conflitos e Violências”, que compila diferentes tipos de violência enfrentada por mulheres na região, abrangendo o Brasil, Colômbia e Peru.
Além de números sobre violências letais, não letais e políticas, a plataforma fornece informações sobre conflitos socioambientais, como disputas por terra e água no Brasil, e expõe as pressões territoriais, incluindo a localização de zonas de mineração legais e ilegais, projetos hidrelétricos e estradas. Entre os dados que aparecem na ferramenta estão:
- Na Amazônia, a taxa de homicídio de mulheres supera a média do restante do país em 48% no Brasil, 80% na Colômbia e 27% no Peru
- A violência sexual é maior na região amazônica nos três países.
- A Amazônia brasileira apresenta uma taxa 30% maior de violência sexual do que no restante do país.
Segundo ela, isso é reflexo de “conflitos socioambientais historicamente presentes na região e mais recentemente uma sobreposição de camadas de novas violência”.
“Seja com crime ambiental, elementos que a gente vem estudando e entendendo como é que acontece dentro de um ecossistema de crimes, seja o desmatamento, seja o aumento de violência na região, com a própria entrada de facções vinculadas ao tráfico de drogas”, observa.
Segundo a diretora de pesquisa do Instituto Igarapé, esses elementos contribuem para aumentar o risco de confrontos na região, resultando em um crescimento das agressões contra as mulheres na Amazônia.
“A gente está vivenciando o momento de mudanças climáticas, e olhar para as mulheres e pensar nelas como protetoras desse ambiente é absolutamente central”, diz.
Ao avaliar dados de segurança pública e de saúde, é preciso considerar o contexto dos conflitos socioambientais da região para conseguir ter o cenário completo sobre a situação de violência.
O diz o governo federal
Procurado pela reportagem, o governo federal informou que o Ministério das Mulheres, à frente de um grupo interministerial que conta com a participação do Ministério da Justiça, irá lançar um plano de ação de prevenção aos feminicídios.
O objetivo é “prevenir todas as formas de discriminação, misoginia e violência de gênero contra mulheres e meninas, por meio da implementação de ações governamentais intersetoriais, com a perspectiva de gênero e suas interseccionalidades”.
Segundo o governo, o plano de ação será apresentado nesta terça (19).