No Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado nesta segunda-feira (29), o g1 conversou com uma mulher e um homem trans, que falaram sobre a dificuldade de acesso à saúde e ao emprego.
A comunidade LGBTQIA+ passa por desafios diários, para pessoas trans, as barreiras são ainda maiores em questões de direito básico e social. No Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado nesta segunda-feira (29), a imprensa conversou com uma mulher e um homem trans, que falaram sobre a dificuldade de acesso à saúde e ao emprego.
Bruno Sol da Silva Ferreira tem 25 anos, é natural de Cuiabá e morador de Várzea Grande, região metropolitana. Ele é artista e já realizou a cirurgia de mastectomia masculinizadora – a retirada das mamas e reconstrução do peitoral.
“Não temos hospitais credenciados pelo SUS para fazer a mastectomia masculinizadora no estado, nem a vaginoplastia no caso das mulheres trans. Temos poucos hospitais no Brasil para esse tipo de procedimento, e somente nos grandes centros. Em Mato Grosso, as opções que temos até o momento são unidades particulares”, pontuou.
Recentemente, o estado inaugurou o Ambulatório Estadual do Processo Transexualizador, em Cuiabá, mas os atendimentos ainda não começaram. O serviço tem por objetivo atender as travestis e transexuais de forma integral. Os principais procedimentos oferecidos são: acolhimento; avaliação médica, endocrinológica, proctológica, fonoaudiológica e de saúde mental.
“Todos os serviços de saúde que a gente procura são muito precários. Não tem nada muito específico e é bem complicado conseguir todos os hormônios, pois estão cada vez mais caros. São anos trabalhando e se esforçando para conseguir conquistar mais qualidade de vida. O jeito que consegui encontrar foi trabalhando com arte. Faço pintura, pinto telas, paineis, murais em paredes”, contou.
Para a mulher trans Yara Soares, de 23 anos, além do acesso à saúde, o mercado de trabalho é um desafio. Cerca de 80% das pessoas transexuais já se sentiram discriminadas em alguma etapa de seleção para um emprego formal, coforme aponta um levantamento da Agência AlmapBBDO e do Instituto On The Go.
Yara encarou o desafio de se abrir com a família e a buscar sua transição. No entanto, segundo ela, a sociedade não cede para os direitos básicos de ter um emprego de carteira assinada.
“Comecei a me transicionar há pouco mais de dois anos, quando me descobri junto com uma amiga. Nesse período, também que comecei a conhecer mais os meus espaços, onde eu poderia estar, o que poderia fazer”, relatou.
Ela trabalhou em dois empregos temporários e, por falta de opções, buscou trabalhar por conta própria, iniciando a carreira como DJ em festas da cidade. Segundo ela, a profissão também foi difícil de enfrentar, pois, apesar de conseguir ter mais visibilidade, também aumentou os desafios para ser aceita.
“Para socializar e viver de novo, é muito difícil. Acho que foi uma das piores experiências que tive no mercado de trabalho como DJ, tanto que nesse período comecei a ter mais visibilidade, mas me prejudicou. Hoje em dia trabalho aos finais de semana, de freelancer num parque aquático, e ainda faço uns bicos tocando, pois é muito difícil conseguir trabalho de carteira assinada no estado”, disse.
Segundo Yara, com a dificuldade encontrada por ela e outros amigos trans, ela acredita que o destino do grupo é seguir em carreiras solos, ou na insegurança dos trabalhos não registrados e temporários.